Título: País se identifica com a UE mas se aproxima dos EUA
Autor: Assis Moreira
Fonte: Valor Econômico, 16/02/2006, Especial, p. A14

A Polônia entrou para o bloco de 25 países da União Européia atraída por interesses econômicos e prefere confiar nos EUA para proteger sua segurança nacional. O presidente, Lech Kaczynski, é visto como um dos mais sólidos bastiões dos EUA no centro da Europa, para irritação da França e da Alemanha. Simbolicamente, sua primeira viagem oficial não foi a Berlim ou a Paris, mas a Washington, na semana passada. Os poloneses minimizam ou estimam que podem suportar uma fratura política e cultural entre a Europa e os EUA. Autoridades insistem que podem ter profunda convicção de sua identidade européia e ser profundamente apegados aos EUA. Ou seja, não dá para ter uma lealdade exclusiva aos europeus. A grande Europa é vista como um projeto de longa duração. Para contrapor-se ao vizinho russo, que continua a obcecar o país, os poloneses confiam em Washington e na solidariedade de Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte), da qual são membros desde 1999, bem mais do que na OSCE (Organização para Segurança e Cooperação na Europa). O ataque dos EUA no Iraque coincidiu com a última fase de negociações para a entrada da Polônia na UE. Foi quando a França e a Alemanha acusaram Varsóvia de deslealdade com a Europa. Além de apoiar e enviar tropas para o Iraque, a Polônia preferiu comprar aviões de combate americanos F-16 e aviões civis também dos EUA, em detrimento do europeu Airbus. Nos últimos meses, a Polônia tem sido acusada de ter fornecido bases militares pra a CIA interrogar suspeitos da Al-Qaeda e de outros grupos terroristas. Questionado pelo Valor, o ministro da Defesa, Radek Sikorski, 42 anos, um americanista convicto, negou essa possibilidade com uma frase quase inaudível. Os poloneses são leais aos EUA, mas querem a recompensa. Um ex-ministro da defesa disse que a Polônia espera de Washington "senão o mesmo tratamento dado a Israel, pelo menos o que é dado a Jordânia". Sikorski conta com os americanos para modernizar as forças armadas do país que, insiste ele, pagou um alto preço no passado por ter sido fraca demais. O orçamento é de US$ 6 bilhões por ano. No Iraque, os americanos pagam metade das despesas das forcas polonesas. Agora, a Polônia vai assumir o comando das forcas estrangeiras no Afeganistão e quer mais ajuda. Na sua viagem da semana passada aos EUA, o presidente Kaczynski prometeu estender a permanência das tropas polonesas no Iraque até 2007. Mas não conseguiu o que mais poderia lhe ajudar politicamente: flexibilidade no visto de entrada para os poloneses.