Título: Grupo PSA pedirá a unificação do IPI
Autor: Marli Olmos
Fonte: Valor Econômico, 16/02/2006, Empresas &, p. B8

Veículos Franceses preparam reunião com governo e querem alíquota única de 7% para todos os carros

O francês Pierre-Michel Fauconnier, presidente do grupo PSA Peugeot Citroën, pretende procurar o governo federal e pedir a unificação do Imposto Sobre Produtos Industrializados (IPI) para os carros, o que, na prática, significaria o fim do motor 1.0, o chamado popular. A bandeira por redução de impostos na indústria automobilística passa, assim, a ser erguida por novos protagonistas. No lugar de veteranas, como General Motors , que tradicionalmente puxava mobilizações como essa, entram os franceses, que pertencem ao grupo que chegou por último no país. Fauconnier pedirá a unificação do tributo para 7%, que representa a faixa mais baixa do IPI. Hoje, a tributação desse imposto federal para carros se divide em três faixas. Os carros com motor 1.0 recolhem 7%, independentemente do tipo de combustível. Para os modelos de automóveis e comerciais leves com motores acima de 1.0 e abaixo de 2.0 o IPI é de 13% nas versões a gasolina e 11% para motor bicombustível. Nos carros com motor acima de 2.0, as alíquotas são de 25% e 18% (gasolina e bicombustível, respectivamente). Fauconnier pretende usar como argumento de convencimento do governo a tese, defendida pela indústria automobilística em geral, de que neste ano é preciso estimular mais o mercado interno (que já está crescendo) para compensar as perdas com exportações que virão como conseqüência da valorização do real. Existe ainda outro fator que começa a inibir o interesse de parte da indústria automobilística pela produção de automóveis com motor 1.0. A diferença entre as duas primeiras faixas do IPI diminuiu, já que a maior parte dos carros acima de 1.0 produzida hoje é bicombustível. Isso significa que esses carros recolhem imposto de 11% ao invés de 13%. Já no carro popular não existe diferença. A alíquota é 7% para gasolina ou bicombustível. O grupo PSA tem razões suficientes para assumir a causa. No final do ano passado, a marca Peugeot retirou o carro 1.0 da sua linha - o modelo 206 1.0. E, para aproveitar a iniciativa em uma ação mercadológica, lançou o mesmo Peugeot 206 com motor 1.4 com preço do antigo. Existe aí um interesse particular da empresa. Assim como outras montadoras que se instalaram no país na safra de investimentos entre o final dos anos 90 e início dessa década, a PSA não produz esse tipo de motor. Enquanto manteve o modelo Peugeot 1.0 no mercado, foi obrigada a comprar o motor da concorrente Renault. A empresa argumenta que a diferença de custos de produção entre o motor 1.0 e o 1.4 é mínima. Essa é uma tese corrente também entre técnicos do mercado. "Provamos que é possível vender o carro 1.4 pelo preço do 1.0", diz Fauconnier, que analisa o benefício fiscal para o carro popular como "uma penalização para o consumidor". Além disso, argumenta, esse motor não serve para exportação, já que só o Brasil adota essa vantagem tributária. A princípio, o grupo PSA parece disposto a encarar essa negociação com o governo sozinho. Se essa for a opção, os franceses podem ter de enfrentar resistência de montadoras como Fiat, que já foi contra movimentos semelhantes comandados no passado, sobretudo pela GM. A questão já foi, aliás, motivo de racha na Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea). Por outro lado, a iniciativa ganharia o apoio das montadoras que também não desenvolveram motores 1.0. Caso das japonesas Toyota e Honda. O assunto redução de impostos não está na pauta da Anfavea, segundo informações da entidade. Recentemente, a direção dessa associação revelou que não brigaria mais por redução de impostos para carros. Nos bastidores, algumas propostas já encontraram a resistência da equipe econômica do governo. Outros interesses tributários também estão em jogo no setor. Todas as montadoras se preparam para tentar redução de Imposto de Importação de peças. Esse deverá ser um dos principais pontos das negociações para a renovação do acordo automotivo do Mercosul. Também circulam no governo propostas do setor para o financiamento com taxas de juros especiais para camadas de consumidores de menor poder aquisitivo. Se a proposta da PSA Peugeot Citroën der certo, será a primeira mobilização do setor para redução de IPI dos carros durante o governo Lula