Título: Para BID, América Latina cresce abaixo do potencial
Autor: Altamiro Silva Júnior
Fonte: Valor Econômico, 16/02/2006, Finanças, p. C8

Crédito Instituição sugere mais investimento em infra-estrutura e tecnologia

Os países da América Latina estão crescendo menos do que poderiam e perdendo espaço para outros mercados emergentes. "A região teve excelente crescimento nos últimos três anos, mas as taxas foram inferiores às de outras economia emergentes. Os países precisam crescer mais", disse ao Valor, Luis Alberto Moreno, presidente do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID). Ontem, foi o segundo dia de sua primeira visita oficial ao Brasil. Moreno é colombiano e assumiu a presidência do BID em outubro do ano passado. "A maioria das economias latino-americanas tem capacidade para dar algo mais", afirma. Parte do crescimento dos últimos três anos se deveu a alta no mercado internacional dos preços dos produtos básicos exportados pela região. "A grande pergunta é o que fazemos para crescer mais." A receita, segundo o presidente do BID, inclui aumento do investimento em infra-estrutura, em capital humano e em tecnologia, aliado a reformas microeconômicas. Profissionais capazes de fazer estas mudanças também não faltam. "Os países da região estão com as melhores equipes econômicas em muitos anos, que aprenderam muito com as crises passadas", disse. Hoje, Moreno se encontra com o presidente Lula, pela manhã, em Brasília. À tarde, vai a Belo Horizonte e se reúne com com o governador de Minas, Aécio Neves. Na pauta dos dois encontros, está a assinatura de convênios para viabilizar a 47º Assembléia do BID, evento que será realizado em abril em Belo Horizonte. São esperados nove presidentes de países latino-americanos. Na conversa com Lula, Moreno disse que fará uma revisão de todos os programas do BID no Brasil e também quer ouvir as preocupações de Lula em relação ao banco. Sobre a economia brasileira, Moreno declarou: "Vejo uma grande confiança na economia do país, não só dos agentes econômicos brasileiros, mas também das pessoas de fora do país." Moreno participou ontem em Campinas da VI Reunião BID Sociedade Civil que reuniu 200 pessoas de vários países da região. Na terça-feira esteve em Manaus, onde conheceu pessoas beneficiadas pelo programa Bolsa Família, de Lula. Moreno não poupou elogios ao projeto e ressaltou sua importância para a inclusão dos negros na sociedade. O ministro do Planejamento e governador do Brasil no BID, Paulo Bernardo, cobrou ontem um aumento dos empréstimos do banco para o Brasil. "No período de 2003 a 2005, o Brasil mais pagou ao BID do que recebeu", disse ao Valor logo após participar da abertura da VI Reunião do BID. Um dos principais projetos do governo são parcerias com 75 municípios para investimentos em infra-estrutura. Estes projetos demandam mais de US$ 3 bilhões, dos quais US$ 1,1 bilhão apenas para o BID. Moreno disse ao Valor que o BID avalia aumentar os empréstimos para o Brasil. "Estamos trabalhando para aportar recursos adicionais", disse. O Brasil é o maior tomador de recursos do banco, com um total de US$ 8 bilhões. Moreno também informou que os países membros do BID estão trabalhando para perdoar a dívida dos países mais pobres da região com banco, que incluem Bolívia, Nicarágua, Guiana, Honduras e Haiti. Sobre os desafios do banco, Moreno disse que o BID precisa se "reinventar, ficar mais ágil e mais transparente."