Título: Vendas em baixa prejudicam Embraer
Autor: Daniele Camba
Fonte: Valor Econômico, 16/02/2006, EU &, p. D2

Papel em Foco Para analistas, processo de pulverização é insuficiente para ação decolar

Apesar da conversão das ações preferenciais (PNs, sem direito a voto) em ordinárias (ONs, com voto), do processo de pulverização dos papéis e dos planos de ingresso no Novo Mercado serem positivos, esses fatores não devem ser suficientes para tirar as ações da Embraer de uma rota de estagnação. E o motivo, segundo analistas, é a fase comercial ruim pela qual passa a companhia. A Unibanco Corretora, por exemplo, que se definia como uma das instituições mais entusiasmadas com as ações, possui há dois anos recomendação apenas de manutenção para os investidores que já têm papéis da empresa. O analista da corretora, Carlos Albano, lembra que o desempenho das ações não vem bem nos últimos dois anos. "O papel está hoje em R$ 20, o mesmo valor que estava no começo de janeiro de 2004", diz Albano. No ano, até o dia 14, as ações ON da Embraer registram alta de 6% frente ao Índice Bovespa de 9,48%. Já as PNs caem 13,86%, valendo R$ 19,77. Elas devem cair mais para chegar ao valor das ONs (de R$ 19,08), já que uma PN será convertida em ON. Apesar de estar bem sob o ponto de vista financeiro (baixo endividamento, por exemplo), o papel, segundo Albano, não possui potencial de valorização pelo fato de a empresa não estar bem em termos comerciais. Na área militar, ela perdeu dois contratos importantes: um com o governo dos Estados Unidos e o outro de venda de caças modelo FX para a Força Aérea Brasileira (FAB). No segmento de jatos executivos, a venda do modelo Legacy não vem ocorrendo na intensidade que se previa. Os jatos menores, que estão sendo desenvolvidos, não representarão grandes ganhos, mesmo haja uma alta venda. Um jato pequeno custa em torno de US$ 3 milhões, enquanto um Legacy não sai por menos de US$ 25 milhões. Além disso, o mercado de aeronaves menores é mais competitivo, com a presença de diversas concorrentes, enquanto que no segmento de Legacy, a Embraer apresentava muita vantagem. Para fechar o cenário negativo, as entregas se mostram fracas no segmento de jatos comerciais. Em 2004, a Embraer entregou 145 aeronaves. No ano passado foram 141 e a expectativa é de entregar 145 este ano e 150 em 2007. "Esse crescimento é muito próximo de zero", avalia Albano. O principal segmento de atuação da Embraer, o de aeronaves regionais, passa por um momento complicado, de vendas em queda em todo o mundo. "Ou esse setor não é promissor, ou as empresas não possuem mais financiamento para comprar essas aeronaves", completa o analista da Unibanco Corretora. O analista da corretora do Banco Real, Pedro Galdi, afirma que a Embraer vem sendo prejudicada pela situação ruim por qual passam as companhias de aviação no mundo todo, especialmente na Europa e Estados Unidos, onde estão os maiores clientes da empresa brasileira. Pela enorme competição, as companhias baixaram as tarifas, o que acabou espremendo as margens de ganho e reduzindo as compras de novas aeronaves, afirma Galdi. Na visão dele, não há perspectivas de melhora desse cenário no curto prazo. Mas há uma luz no fim do túnel. Pelo menos é o que vê o analista do Banif Investment Banking, Luiz Caetano. Na semana passada, após sair da concordata, a US Airways retomou os contratos antigos com a Embraer e ainda firmou mais 50 opções de compra. Caetano também está otimista com o ingresso da companhia no segmento de jatos executivos de menor porte que, na visão dele, tem tudo para despontar nos próximos anos. Ele cita também a fraqueza da Bombardier - uma grande concorrente da Embraer -, que cancelou a execução de um novo projeto, o que deve deixar a companhia brasileira atuando sozinha no segmento de aviões de 70 a 110 lugares, pelo menos pelos próximos quatro anos. "O investidor já está percebendo esse cenário benéfico, o que deve mudar a sua percepção com relação à empresa", completa Caetano. Há um consenso entre os analistas de que a conversão das ações preferenciais em ordinárias será positivo porque irá aumentar a liquidez dos papéis em bolsa. Os planos para entrar no Novo Mercado da Bovespa também representa um aumento importante no nível de governança corporativa da companhia. Já Albano, da Unibanco Corretora, não vê com bons olhos a possibilidade da empresa não ter mais controle definido. "Hoje eu sei quem são os controladores e como é a gestão, e amanhã, como será?", questiona o analista.