Título: OMC pode ter acordo parcial até abril, admite Hugueney
Autor: Assis Moreira
Fonte: Valor Econômico, 17/02/2006, Brasil, p. A4

Pela primeira vez, o embaixador do Brasil na Organização Mundial do Comércio (OMC), Clodoaldo Hugueney, declarou-se "moderadamente otimista" sobre a possibilidade de um acordo até o fim de abril nas áreas agrícola e industrial na Rodada Doha. Hugueney vê chances reais de os países definirem nos próximos dois meses como será a liberalização, com os percentuais de cortes de subsídios e tarifas - o que significa definir quem ganha e quem perde. "O ambiente mudou nitidamente (entre os países), ninguém mais está fazendo discursos e sim trabalhando na prática", disse o embaixador. "Todos estão comprometidos em alcançar um acordo até 30 de abril." Antes da conferência de Hong Kong, em dezembro, o embaixador brasileiro advertira que sem um compromisso até abril a Rodada Doha perderia a credibilidade e dificilmente poderia ser concluída no ano que vem. Em Hong Kong, porém, a União Européia insistira que poderia ser necessário mais tempo para se alcançar um acordo sobre as "modalidades" (tamanho dos cortes e como será feito isso). Agora, o mediador da negociação agrícola, o neozelandês Crawford Falconer, também manifesta sinais de esperança. Ele espera esboçar textos de um eventual acordo agrícola nos próximos dias, para submetê-los aos países no começo de março. A iniciativa antecederá uma reunião de ministros do G-6 (Brasil, Estados Unidos, União Européia, Índia, Japão e Austrália) nos dias 10 e 11 daquele mês em Londres. No entanto, não está claro que haja qualquer concessão da União Européia, que oficialmente, pelo menos, tem se recusado a apresentar nova oferta agrícola na Rodada. Nos debates técnicos, os europeus condicionam a imposição de novas disciplinas para ajuda alimentar e outras formas de apoio à exportação, para efetivar a eliminação dos subsídios à exportação até 2013, como foi acertado em Hong Kong. Os países vêm dando ênfase à discussão de disciplinas que devem balizar os acordos agrícola e industrial, porque são mais complicadas tecnicamente. A idéia é deixar para os ministros definirem os percentuais de cortes das tarifas e subsídios mais perto da data fatal. Para isso, os países fazem simulações de fórmulas, com base em quatro propostas de cortes tarifários. Para produtos sensíveis, que terão corte menor, há seis alternativas. Na área industrial, continuam na mesa tanto propostas de fórmula suíça (corta proporcionalmente mais as tarifas maiores), como a fórmula ABI (Argentina, Brasil e Índia), mais moderada. Igualmente, é levada em conta a base para flexibilidade aos países em desenvolvimento, que poderá deixar 10% das linhas tarifárias fora de cortes ou preferir o equivalente a 5% do valor das importações industriais.