Título: FHC responde à critica de Paulo Cunha à 'mediocridade'
Autor: Ricardo Balthazar
Fonte: Valor Econômico, 17/02/2006, Política, p. A11

A decisão do PSDB de usar o seminário promovido em conjunto com o Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi) para fazer interlocução o setor financeiro provocou momentos de tensão em um encontro que deveria marcar a aproximação do partido com o empresariado. Núcleo de empresários que pede agressivamente a redução da taxa básica de juros e a intervenção governamental para a valorização do dólar, o Iedi compôs uma platéia disposta a ouvir propostas de mudança na condução da macroeconomia. Estavam presentes Claudio Bardella, Hugo Etchenique, Amarílio Macedo, Carlos Jereissati, Paulo Cunha, Jacks Rabinovich, Roberto Caiuby Vidigal e o presidente do Instituto, Josué Gomes da Silva, diretor da Coteminas e filho do vice-presidente José de Alencar. Mas o formato que o PSDB optou para o debate, convidando os ex-presidentes do Banco Central Armínio Fraga e Ibrahim Eris e o ex-diretor da instituição Ilan Goldfajn desagradou a audiência. Os três, que não são filiados ao PSDB, são interlocutores do sistema financeiro. Foram convidados pelo senador Tasso Jereissati, o presidente do PSDB, oficialmente para que o partido "não ficasse apenas falando para dentro", segundo afirmou um dos organizadores. Convidada a assistir ao encontro, a principal entidade patronal do setor financeiro, a Febraban, compareceu, representada pelo seu economista-chefe, Roberto Troster, e por dois diretores. Também estava presente o economista-chefe do Bradesco, Octavio de Barros. O resultado é que o encontro ficou muito perto de se tornar um bate-boca. "Faz 25 anos que fazemos as mesmas perguntas para os economistas e as respostas não nos satisfazem. Estamos aplaudindo a mediocridade com foguete", disse o empresário Paulo Cunha, do grupo Ultra. O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, levantou-se da platéia e decidiu responder. Salientou os progressos obtidos no seu mandato, citando especialmente o avanço do agronegócio e a privatização das telecomunicações e cobrou apoio dos empresários à reforma da Previdência. "Qual dos senhores estava lá (no Congresso)?", perguntou, olhando para os empresários. Segundo Fernando Henrique, "é preciso olhar com otimismo para frente e não ficar chorando sempre sobre as mesmas coisas". Cunha não retrucou. "Aqui não ouvi muitas idéias novas. Gostaria de ter ouvido alguma palavra muito clara sobre o crescimento econômico, uma visão futura. A sociedade não estará disposta a ouvir novamente que daqui a três ou quatro anos poderemos ter uma convergência de metas que possibilitará o crescimento econômico. Não ouvi nada aqui sobre um estado que seja atuante no sentido de promover o crescimento", afirmou Ivoncy Ioschpe, empresário do setor ferroviário, no momento em que o seminário se encerrava. O evento conjunto do Iedi com o PSDB serviu ao menos para mostrar que o empresariado está longe de uma posição unânime na preferência pelo governador Geraldo Alckmin em relação ao prefeito José Serra pela candidatura presidencial do PSDB. "Isto é um mito. Os dois podem ter diferenças de estilo, mas não há uma divergência essencial do ponto de vista econômico", afirmou Ioschpe.