Título: Tensão entre pré-candidatos beira o conflito
Autor: Ricardo Balthazar
Fonte: Valor Econômico, 17/02/2006, Política, p. A11

Aumenta a tensão entre partidários do prefeito paulistano José Serra na disputa interna do PSDB pela candidatura presidencial, contra o governador Geraldo Alckmin. Os aliados do prefeito reclamam da posição neutra da direção do partido, que não interfere na pré-campanha desenvolvida pelo governador. Ontem , durante o seminário conjunto promovido pelo partido pela entidade empresarial Iedi, Alckmin chegou a ironizar a situação. "Só temos um candidato e portanto nem temos como discutir o critério da escolha. O Serra nunca manifestou a mim se quer ser candidato. Engraçado isso, não é?", indagou a jornalistas. Sob reserva, um interlocutor freqüente do prefeito afirmou que Serra aguarda que a direção do partido convença Alckmin a retirar a candidatura. O prefeito teria viva na memória a experiência de 2002, quando disputou internamente a candidatura e não conseguiu unir o partido depois. Agora, só aceitaria o consenso. Este aliado do prefeito fez uma ameaça: Alckmin estará enganado se pensar que terá o apoio de todo o partido caso ganhe a candidatura em uma situação conflitiva. "A situação precisa mudar. Se deixar esta inércia, Serra não será candidato e vamos de Alckmin mesmo. Seja lá o que Deus quiser", desabafou outro serrista, o deputado Sebastião Madeira (MA), presidente do instituto de estudos do partido. A tensão esteve presente no evento. Serra e Alckmin chegaram antes do início dos trabalhos, mas evitaram se encontrar nos corredores do hotel que abrigou a conferência. Sentaram-se lado a lado sem trocar palavra. Durante o encontro, Serra passou um bilhete para o governador. Segundo Alckmin, tratava-se apenas de uma observação sobre uma das palestras. No encerramento do evento, ao ser cercado por jornalistas que indagavam sobre a situação do interna do partido, Serra repetiu por três vezes para os jornalistas procurarem o presidente da sigla, o senador Tasso Jereissati (CE). "O que está atrapalhando é a indecisão e faço aí uma autocrítica, porque sou presidente do partido. Isto está nos prejudicando. Há uma ansiedade quanto ao nome, o partido está pressionando neste sentido, mas precisamos principalmente do entendimento das principais lideranças, inclusive do Serra e do Alckmin", disse Tasso. Tido tanto por Alckmin quanto por Serra como um aliado, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso mostrou-se favorável a adiar a decisão. "Temos tempo para decidir e maturidade para chegar a uma convergência", disse, descartando a possibilidade de prévias. Confiante na estratégia do embate, Alckmin continua sem demonstrar qualquer intenção de retroceder. Em sua viagem anteontem a Joinville (SC), o governador fez uma palestra amena para uma platéia de empresários. Ao trancar-se com os políticos catarinenses, foi taxativo. "Ele não vai desistir. Quer que o diretório nacional, ou um colégio de eleitores internos seja ouvido. Disse que esta é a forma democrática de se decidir", afirmou o senador Leonel Pavan (SC), que se declarou eqüidistante. "Qualquer um dos dois ganha no meu Estado", resumiu. Entre os apoiadores de Alckmin, a agressividade é crescente. "Se levarmos a disputa para a convenção, ganhamos. A gente escolheu o Serra para enfrentar a Marta para ele ficar os quatro anos, não para entregar o governo municipal ao PFL", disse o deputado federal Júlio Semeghini (SP). Novas pesquisas, desta vez qualitativas, estão sendo preparadas pelo PSDB, para medir o impacto em São Paulo da eventual renúncia de José Serra à prefeitura. Os números serão analisados apenas na primeira semana de março, depois do carnaval. Os serristas contam com o resultado desta pesquisa para forçar a direção partidária a convencer Alckmin de que ele não é o tucano mais habilitado a derrotar o presidente Luiz Inácio Lula da Silva nas eleições presidenciais de outubro.