Título: Economia virou "commodity" na disputa, dizem pesquisas
Autor: Ricardo Balthazar
Fonte: Valor Econômico, 17/02/2006, Política, p. A11

O tucano José Serra impôs uma condição ao PSDB para assumir o desgaste de deixar a prefeitura de São Paulo, contrariando o que prometera na campanha, e disputar a eleição contra o presidente Luiz Inácio Lula da Silva: a unidade do partido em torno de sua candidatura, especialmente o apoio convincente do governador do estado, Geraldo Alckmin. Mais que a recuperação de popularidade de Lula, apontada nas últimas pesquisas, é a oposição de Alckmin que deixa Serra mais dividido sobre a decisão de ficar ou deixar a prefeitura. "Eu gosto de ser prefeito", costuma dizer. Serra é o nome preferido da cúpula do PSDB. Alckmin era considerado o candidato natural, mas a situação mudou desde que o prefeito recolocou os tucanos na disputa presidencial ao derrotar o PT e impedir a reeleição de Marta Suplicy em São Paulo. As pesquisas de opinião, que o apontam como o candidato do partido em melhor condição para bater o presidente Lula, consolidaram sua posição. Serra também é o preferido do PFL. O que poucos contavam era com a oposição combativa de Alckmin. Nos cálculos dos tucanos, a eleição em São Paulo, o maior colégio eleitoral do país, será crítica. De acordo com as pesquisas, Lula guarda a terceira posição e perde tanto para Alckmin como para Serra. Por isso será decisivo que o PSDB esteja unido para sair do Estado com uma votação expressiva. É uma condição que vale para os dois pré-candidatos, mas são os movimentos do governador e seus aliados que levam os tucanos a desconfiar que Alckmin abrace e entre "de cabeça" na eleição, se o candidato escolhido for José Serra. Alckmin dá um peso maior à recuperação de Lula nas pesquisas que o prefeito. A última rodada da pesquisa CNI/Ibope registra que o presidente voltou a ficar à frente de Serra, na simulação do segundo turno. Na avaliação dos partidos do governador, isso retiraria a vantagem do prefeito na disputa interna pela indicação, uma vez que Alckmin partiria de um piso razoável (18%) e teria mais possibilidades de crescimento, já que é menos conhecido que Serra, cujos índices carregariam o recall das eleições de 2002. No bunker serrista importam mais as pesquisas qualitativas que as quantitativas. A avaliação é que a eleição será disputada em três grandes planos: a economia, a ética e o social. A economia é vista como uma "commodity", mercadoria de grande liquidez, fácil de ser vendida tanto pelo PT de hoje, com o que fez no governo, como pelo PSDB. Lula entraria em desvantagem na questão ética, mas com vários corpos à frente de vantagem na questão social. Resumo de um tucano: "O social não está no DNA do PSDB como está no de Lula". Nesse quadro será fundamental o apoio efetivo de Alckmin, mas, embora o governador diga publicamente que apoiará o nome a ser escolhido pela cúpula do partido, os serristas vêem com desconfiança os sinais emitidos pelo governador e seus aliados. Para justificar a saída do cargo, Serra contava com uma "romaria" de tucanos à prefeitura para fazer um apelo por sua candidatura, o que ficou mais difícil com a contestação aberta de Alckmin, o que obrigou Tasso Jereissati, presidente do partido, a declarar que Serra é, sim, candidato a candidato a presidente pelo PSDB. Para ser candidato, Serra tenta evitar que se repita o que aconteceu em 2002, quando foi inteiramente abandonado pelo partido nas eleições, com alguns tucanos se empenhando pouco na campanha e outros declarando apoio a candidatos de outra legenda, como fez Tasso Jereissati, hoje presidente da legenda. Com habilidade, Serra conseguiu contornar as objeções de todos os que foram contra sua candidatura nas eleições passadas, mas até agora não conseguiu o mesmo compromisso de um governador que terá peso importante no Estado que reúne o maior colégio eleitoral do país, fundamental para quem quer se eleger presidente da República. Há dúvidas até mesmo sobre se Alckmin aceitará a indicação da cúpula: os aliados do governador voltaram a dizer que ele se desincompatibilizará em março, mantendo aberta a possibilidade de disputar a indicação dos tucanos na convenção do PSDB a ser realizada em junho para oficializar a escolha do candidato. Isso tudo dificulta a decisão de Serra, que não tem dúvidas sobre a exploração que será feita pelos adversários ao deixar a prefeitura, o que prometeu não fazer por escrito e registro em cartório. O ideal para Serra é que Alckmin comandasse a eleição em São Paulo no governo do Estado. Apesar das dúvidas, é certo que Serra não desistiu de ser o candidato, de acordo com rumores que circularam em Brasília, na quarta-feira passada, depois de uma conversa do governador do Rio Grande do Sul, Germano Rigotto, com o presidente do Senado, Renan Calheiros. O tipo de boato inevitável diante da divisão tucana. Por isso o PSDB resolveu acelerar a definição de seu candidato, o que deverá ocorrer depois do Carnaval, por volta de 10 de março, como disse Tasso Jereissati em entrevista ao Valor. Para o presidente da sigla, a indecisão está prejudicando o partido.