Título: Serra pede sugestões para mudar política monetária
Autor: Ricardo Balthazar
Fonte: Valor Econômico, 17/02/2006, Política, p. A11

Eleições Prefeito diz que Banco Central cometeu "excessos"

O prefeito de São Paulo, José Serra (PSDB), pediu ontem a um grupo de economistas de diferentes correntes de pensamento sugestões para tornar mais flexível a maneira como o Banco Central maneja a taxa básica de juros para combater a inflação. Apontado pelas pesquisas como o político tucano com melhores condições para enfrentar o presidente Luiz Inácio Lula da Silva nas eleições deste ano, Serra fez uma rápida intervenção no debate promovido ontem pelo PSDB e pelo Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi) para discutir alternativas à política econômica em vigor. O prefeito afirmou que o Banco Central cometeu "excessos" na gestão da política monetária nos últimos meses, uma opinião compartilhada pela maioria dos economistas. Mas Serra reconheceu que ficou muito difícil abandonar o regime de metas de inflação que atualmente orienta a atuação do Banco Central. "É facílimo entrar no regime de metas e quase impossível sair sem provocar enorme desestabilização", argumentou Serra, afirmando que "a idéia de se manter um tripé na política econômica, com responsabilidade fiscal, câmbio flutuante e metas de inflação é consensual". Segundo o prefeito, "a meta de inflação veio para ficar, mas o excesso do Banco Central comprometeu a questão cambial e a questão fiscal". Nenhum dos participantes do debate sugeriu mudanças nas regras do sistema, mas todos concordaram que as taxas de juros poderiam ser menores hoje se o BC tivesse usado de outra forma os instrumentos à sua disposição. O ex-presidente do Banco Central Armínio Fraga, hoje sócio da administradora de fundos Gávea Investimentos, disse que o BC poderia ter usado a folga permitida pelas bandas do regime de metas, afrouxando um pouco os juros e aceitando uma taxa de inflação mais alta que a meta. A meta fixada para a inflação no ano passado, originalmente de 4,5%, foi revista pelo governo no meio do caminho para 5,1%, mas o regime de metas permitia uma tolerância até 7%. "Esse espaço existe para ser usado de forma responsável e transparente, e a atual administração do BC deixou-o de lado", disse Fraga. Muitos economistas acreditam que o regime de metas poderia ser aperfeiçoado com a mudança do índice usado para medir a inflação e do período necessário para conduzi-la até a meta, por exemplo. Mas mudanças como essas podem arranhar a credibilidade do BC e por isso geram enormes controversas. Nenhuma dessas alternativas foi discutida ontem, embora o debate dos tucanos se propusesse a "renovar idéias", como dizia o título do seminário. Mas pequenos ajustes foram sugeridos. O economista Yoshiaki Nakano, da Fundação Getúlio Vargas (FGV), disse que o BC poderia reduzir as taxas de juros mais rapidamente, em vez de baixá-las em menos de um ponto porcentual ao mês como vem fazendo. O ex-presidente do Banco Central Ibrahim Eris, hoje consultor de empresas, sugeriu que um pouco mais de inflação não faria mal a ninguém. "Não dá para abandonar o regime de metas sem criar muito tumulto, mas deveríamos ficar satisfeitos com 6% ou 7% ao ano", disse. A discussão foi dominada por questões conjunturais como juros e câmbio, e praticamente não se falou sobre o que o país precisa fazer para crescer com taxas vigorosas como a de outros países emergentes. Mas ficou evidente que há um consenso entre os economistas sobre a necessidade de passar a faca nas despesas do governo federal. O crescimento dos gastos de Brasília é "insustentável" se continuar no ritmo dos últimos anos, disse o ex-diretor do BC Ilan Goldfajn, sócio de Fraga na Gávea Investimentos. "Estamos no pior dos mundos, com política fiscal expansionista e juros altos", disse o professor da Universidade de São Paulo (USP) Joaquim Elói Cirne de Toledo, diretor da Nossa Caixa Nosso Banco. Atacar desequilíbrios do setor público como as contas da Previdência Social é uma tarefa para o próximo governo, na avaliação de Fraga. Ele acha que não se deve esperar muito da administração petista nessa área num ano eleitoral. "É um assunto antipático e delicado e fomos incapazes de gerar um consenso em torno dele quando estávamos no governo", afirmou Fraga.