Título: Substituto na Fazenda é entrave à escolha de Palocci para coordenação
Autor: Raymundo Costa e Paulo de Tarso Lyra
Fonte: Valor Econômico, 20/02/2006, Política, p. A6

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva fala a verdade quando diz que ainda não escolheu coordenador da campanha à reeleição, mas considera Antonio Palocci o nome mais completo na praça. O ministro da Fazenda também gostaria de ter função política no Palácio do Planalto. Mas o que parece ser uma solução fácil é na realidade um grande problema, na medida em que são imprevisíveis as consequências de sua substituição. A mais de um interlocutor, Palocci manifestou nos últimos dias interesse na coordenação política. Isso seria possível no final de março, quando o ministro Jaques Wagner (Relações Institucionais) deixar o Planalto para se candidatar ao governo da Bahia. Palocci poderia ocupar o cargo até junho, data estabelecida por Lula para o anúncio da recandidatura, e depois assumir a coordenação da campanha. O problema é quem fica no lugar de Palocci e se Lula vai se arriscar a provocar alguma incerteza na economia em plena eleição. Palocci quer estar no Planalto, numa função política, mas também quer fazer o sucessor na Fazenda. Alguém inteiramente afinado com a política econômica. O secretário-executivo Murilo Portugal, por exemplo. Uma opção que é condenada pelo PT e por setores do governo - além de rezar pela cartilha Palocci, o economista é muito identificado com o governo do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. Durante a crise que opôs Palocci à Dilma Rousseff (Casa Civil), Lula pensou no senador Aloizio Mercadante (PT-SP) para o lugar do ministro. Ele ainda é opção, com uma vantagem: abriria mão de concorrer ao governo de São Paulo, evitando uma disputa desgastante com a ex-prefeita Marta Suplicy. Outras duas alternativas citadas em círculos do PT e do governo: o economista João Sayad, vice-presidente do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), que voltará ao país, e o do presidente da Petrobras, Sérgio Gabrielli, um nome ligado a Dilma. Nenhuma das opções agrada a Palocci. Palocci, sem dúvida, seria o nome "mais completo" para Lula: além de experiência de campanha, mantém a memória dos financiadores e boas relações com a banca. Além disso, não seria obstáculo à linha pragmática que o presidente começa a imprimir nas articulações da reeleição, que podem até levá-lo a compartilhar palanques antes impensáveis, como o de Orestes Quércia na corrida ao Senado, para facilitar o entendimento com o PMDB. Mas há um grande problema: Lula não parece nem um pouco disposto a ter um novo super-ministro no Planalto, como foi José Dirceu. Com a coordenação da campanha nas mãos Palocci estaria cacifado politicamente para influenciar ainda mais em um eventual segundo mandato de Lula. "Não acredito que ele vá repetir o mesmo erro. Até porque Lula hoje está muito mais forte: não é mais o principal candidato da oposição. Ele é o presidente", diz um petista. O prefeito de Belo Horizonte, Fernando Pimentel, dá a dica de um caminho que pode ser seguido. "Não me surpreenderia se houvesse uma coordenação colegiada, com diversas pessoas, inclusive de fora do PT, com funções específicas." Lula só deve discutir a escolha do coordenador de campanha por volta de maio. No cronograma do presidente, o próximo passo é a reforma do ministério, com a saída de cerca de meia dúzia de ministros que concorrerão às eleições. Lula tem dito que não quer um time de reservas. O PMDB pode até ampliar seu espaço no governo, se isso ajudar os aliados do presidente a acabar com a eleição prévia, levar o partido a uma aliança com o PT ou deixá-lo sem candidato próprio. O cronograma de Lula inquieta o PT, que tem suas próprias idéias sobre a coordenação da campanha e a política de alianças. O governador do Acre, Jorge Viana, por exemplo, considera temerário colocar Palocci na coordenação de governo. O governador não admite, mas está no páreo pelo cargo. "Pelo que me consta, o debate em torno de Palocci está superado. Da mesma forma que não podemos perder um presidente para ter um candidato à reeleição, também não é sensato perder o ministro da Fazenda para termos um coordenador de campanha", analisou Viana. O líder do governo na Câmara, Arlindo Chinaglia (PT-SP) considera Palocci um nome perfeitamente viável, mas lembra que outros nomes que compõem o núcleo político do governo, como Dilma e Jaques Wagner, têm chance. "Mas essa é uma decisão do PT e do presidente Lula." Diante desse abacaxi, o presidente do PT, Ricardo Berzoini, defende a escolha para depois do encontro nacional do partido, em abril. "Se definirmos agora, poderemos melindrar companheiros que terão participação decisiva na campanha."