Título: Acordos bilaterais já estão criando 'Alca paralela'
Autor: Tatiana Bautzer
Fonte: Valor Econômico, 20/02/2006, Internacional, p. A6

Com as negociações da Área de Livre Comércio das Américas (Alca) paradas e dificuldades na Rodada Doha, acordos bilaterais dos EUA já estão criando uma "Alca paralela" na região. Depois de resolvidos os problemas de implementação do acordo com a América Central, os países pretendem fazer um esforço para unificar as regras dos vários acordos bilaterais. Os EUA também têm interesse na harmonização de regras entre seus acordos com México, Canadá, Chile e América Central. Em breve, alguns países andinos, como o Peru e Colômbia também entrariam na rede de acordos bilaterais. O Peru já fechou o acordo, mas há dificuldades com a Colômbia. Alguns dos países centro-americanos, como a Costa Rica, já têm acordos de livre comércio com o México, Canadá e Chile, e estão interessados em harmonizar as regras para evitar a multiplicidade de regimes comerciais. Esse esforço pode concentrar as energias de negociação comercial desses países nos próximos meses. "Esperávamos muito da Alca, porque poderíamos ter uma massa crítica ao nosso lado para negociar com os EUA", conta um diplomata costarriquenho. "Mas tínhamos que resolver a questão logo, porque estávamos dependendo de uma concessão unilateral do governo americano para sobreviver". Até agora, as exportações sem tarifas são concedidas pela Iniciativa da Bacia do Caribe, legislação aprovada pelos EUA nos anos 70 para apoiar o crescimento econômico dos países devastados por guerras civis. O Cafta foi a maneira encontrada pelos países para "eternizar" as concessões dos EUA, mesmo que tendo de pagar o preço da abertura das economias. No início das negociações, os países da América Central atuaram como um conjunto. Mas a estratégia acabou ficando mais individualizada quando as conversas atingiram interesses regionais. A Costa Rica chegou a abandonar a mesa, mas voltou ao receber dos EUA uma oferta melhor em cotas de açúcar e compensações pela abertura do setor de telecomunicações. Agora, o interesse dos países em voltar a negociar a Alca diminuiu muito. Um diplomata brasileiro em Washington percebeu a tendência em conversas com colegas latino-americanos. "Agora o interesse deles depende de ganhos adicionais que possam ter com a área incluindo toda a América. Mas por outro lado, se houver avanço na Rodada Doha fica mais fácil fazer a Alca avançar". (TB)