Título: Núcleo original divide-se na avaliação do governo mas vê favoritismo do presidente
Autor: César Felício e Cristiane Agostine
Fonte: Valor Econômico, 20/02/2006, Especial, p. A10

Do grupo de empresários que declarou voto no PT na eleição deste ano, dois aliados antigos do presidente Luiz Inácio Lula da Silva simbolizam a divisão dos apoiadores do petista. Companheiro de longa data de Lula e um dos principais interlocutores junto a lideranças do setor produtivo, Oded Grajew ficará de fora da disputa. Satisfeito com os resultados da política econômica, o presidente do grupo Moinho Pacífico e integrante do Conselho Deliberativo da Abitrigo, Lawrence Pih, permanece firme em sua admiração pelo presidente e disposto a participar da campanha pela reeleição. Nas quatro campanhas presidenciais disputadas por Lula, Oded Grajew organizou jantares e sabatinas para que empresários conhecessem melhor as propostas de Lula e foi um importante articulador do petista. Mas neste ano, o presidente do Conselho Deliberativo do Instituto Ethos não o apoiará de forma pública, nem ajudará financeiramente o PT. Sua justificativa é uma agenda cheia de compromissos. O otimismo que levou Grajew ao engajamento voluntário nas pleitos anteriores foi substituído pela desilusão com a conduta ética do PT. "Na questão ética, o governo é vulnerável. Realmente o PT foi uma grande decepção", desabafa. Depois de uma passagem rápida pelo governo em 2003, como assessor especial da Presidência, responsável pelo programa Fome Zero, Grajew faz ressalvas ao Bolsa Família, bandeira social do governo. "O programa é positivo, mas poderia avançar mais na questão da saída, na capacitação para geração de renda", analisa. O entusiasmo do antigo militante foi substituído pela racionalidade da comparação de números e índices com o governo do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, do PSDB. "A eleição não vai ser, desta vez, para escolher 'o perfeito'. Vai ser para escolher entre aqueles o que tem melhores indicadores. Vou votar no Lula porque esse governo é bem melhor do que o anterior na geração de emprego, na diminuição da pobreza e da desigualdade, na balança comercial, na dívida interna e externa. Não há comparação, mas, na questão ética, o governo é vulnerável. Realmente, o PT foi uma grande decepção." Membro de dois conselhos da Fiesp, Lawrence Pih destoa do pensamento médio dos integrantes da entidade, ao definir como simplesmente "brilhante" a política econômica desenvolvida pelo ministro da Fazenda, Antonio Palocci. "Lula já mostrou que se preocupa com a estabilidade econômica. Posso rebater qualquer crítica que se faça à política econômica. Hoje não temos mais vulnerabilidade externa, o Brasil está menos suscetível", afirma. Responsável pela coordenação do comitê empresarial do PT em São Paulo, na campanha de 2002, Pih acredita que Lula não terá que esperar a reta final da campanha para arregimentar apoios no meio patronal. Com relutância, admite que o governo federal poderia ter avançado mais na estruturação de uma reforma tributária que reduzisse a carga fiscal sobre o meio produtivo: "Tivemos dificuldades nas negociações". (CA)