Título: CPI dos Correios mantém depoimento em sigilo
Autor: Paulo de Tarso Lyra
Fonte: Valor Econômico, 21/02/2006, Política, p. A11

O sub-relator de Fundos de Pensão da CPI dos Correios, deputado Antonio Carlos Magalhães Neto (PFL-BA), aguarda para hoje um depoimento sigiloso que poderá confirmar as suspeitas de que fundos de previdência de empresas estatais - especialmente Nucleos, Prece, Real Grandeza e Refer - e corretoras de investimentos uniram-se para beneficiar partidos políticos, especialmente PT e PCdoB, durante o governo de Luiz Inácio Lula da Silva. Para não atrapalhar as investigações, ACM Neto pediu que o depoente não fosse identificado. Mas não tem dúvidas de que o esquema existiu, orquestrado pelo ex-assessor da Casa Civil, Marcelo Sereno, responsável pela indicação de alguns diretores de fundos estatais. "Havia um esquema de perdas para os fundos e ganhos para determinadas instituições financeiras. Por trás disso tudo, uma forte conotação política", resumiu o deputado. A certeza foi corroborada pelos depoimentos tomados ontem: a ex-gerente de investimentos da Nucleos (fundos das empresas nucleares brasileiras), Fabiana Carneiro Carnaval e dos ex-sócios da Arbor Asset, Rogéria Costa Beber e Murilo de Almeida Rêgo. O principal depoente do dia, Lúcio Bolonha Funaro, da corretora Stocklos, não foi localizado. "Vou entrar em contato com o Paulo Lacerda (Superintendente da Polícia Federal) e com o ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos para tentar achar o Funaro. Esta é a segunda ou terceira vez que ele é convocado e não aparece", reclamou o sub-relator. A ex-gerente de investimentos da Nucleos, Fabiana Carnaval, negou qualquer responsabilidade nos prejuízos sofridos recentemente pelo fundo de pensão. "Eu era apenas uma executora. Todas as decisões de investimentos eram tomadas pela diretoria executiva", rebateu Fabiana. Ela também nega conhecer o ex-assessor da Casa Civil, Marcelo Sereno. Os ex-sócios da Arbo Asset - que concentraram os investimentos da Nucleos -, Rogéria Costa Beber e Murilo de Almeida Rêgo, confirmaram o repasse de R$ 20 mil para a campanha do vereador do PCdoB fluminense, Fernando Gusmão. Murilo, no entanto, negou que houvesse qualquer privilégio no relacionamento entre a Arbo e a Nucleos. Ele é irmão de Christian de Almeida Rêgo, primo de Fabiana. "Zero, benefício zero. Nosso fundo era Top Five na lista do Banco Central, somos um fundo sério", frisou. ACM Neto não quis confirmar as denúncias divulgadas pela Revista "Veja" neste fim de semana de que essa parceria fundos de pensão-corretoras de investimentos tenha financiado o pagamento de mensalão para deputados. Na matéria, consta que o assessor de imprensa do deputado Nilton Baiano (PP-ES) teria embolsado R$ 100 mil da corretora Euro, do Rio de Janeiro, no dia 28 de julho de 2004, quando Baiano era candidato à prefeito de Vitória. "Eu não posso confirmar que os fundos pagaram mensalão para deputados, nem tampouco confirmar a denúncia contra a corretora Euro, já que os sigilos dela foram lacrados pelo Supremo Tribunal Federal", lamentou o pefelista. Ele também vai anunciar hoje a concentração de investimentos dos fundos de pensão estatais nos bancos BMG e Rural, no período 2003/20004, período que coincide com a parceria destes bancos com a agência de publicidade SMP&B de Marcos Valério.