Título: China pode limitar venda de sapatos após ameaça da UE
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Fonte: Valor Econômico, 21/02/2006, Internacional, p. A13

Comércio Bloco europeu quer sobretaxar calçado chinês a partir de abril

A ameaça da União Européia (UE) de impor tarifas de importação de até 20% sobre alguns tipos de calçados de couro da China e do Vietnã a partir de abril pode desencadear medidas semelhantes em vários países que buscam reduzir as importações de sapatos chinesas. Ontem, o México citou pressão de seu setor calçadista para a imposição de barreiras. Espera-se que a China ofereça algum tipo de redução voluntária de exportação para evitar a tarifa, como já ocorreu no caso de produtos têxteis. A UE, que no ano passado importou 120 milhões de pares de calçados do Vietnã e 95 milhões de pares de calçados da China, no valor de 5 bilhões de euros, disse que adotará tarifas crescentes sobre esse tipo de produto num período de seis meses, para impedir que calçados sejam comercializados no bloco europeu a um preço inferior ao de custo, o que caracteriza dumping. "Essa é uma medida muito hostil aos consumidores e seria especialmente onerosa para famílias de baixa renda, além dos comerciantes, importadores e varejistas", disse Ralph Kamphoener, consultor comercial sênior da EuroCommerce, representante de empresas européias que empregam mais de 22 milhões de pessoas na UE. Ao adotar a alta gradual das alíquotas a partir de 7 de abril, a Comissão Européia, braço executivo da UE, espera evitar o problema de retenção nos portos que ocorreu quando a UE limitou as importações de produtos têxteis chineses, no ano passado. As categorias de calçados sob investigação vão de tênis a botas de salto alto, que constituem 8% de todos os sapatos comercializados na Europa. A China ameaçou retaliar caso o comissário para o Comércio da UE, Peter Mandelson, realmente adote os impostos adicionais. Mas espera-se algum tipo de negociação. "É provável que a China se ofereça para restringir as exportações como possível solução para a disputa", disse Mei Xinyu, especialista em comércio exterior na China. Segundo ele, o governo chinês pode impor uma tarifa para desacelerar as remessas ou adotar um limite para as exportações. "Vai depender das conversações com a UE." O porta-voz da Comissão Européia, Peter Power, disse que há "evidências convincentes de que há uma grave intervenção estatal no setor de calçados de couro tanto na China quanto no Vietnã". Essa intervenção se dá por meio do "financiamento barato, dos aluguéis de terrenos a preços abaixo dos de mercado, de reduções de impostos e de avaliações inadequadas de ativos, que geram dumping", disse Power, acrescentando que "há evidências de dumping e de danos". Mandelson proporá a adoção das alíquotas punitivas ao comitê antidumping da UE no próximo dia 9 de março. As exportações de peças de vestuário e produtos têxteis da China aumentaram 21%, para US$ 115 bilhões, em 2004, informou o China Textile News, citando dados alfandegários. As vendas de calçados do Vietnã ao exterior - o terceiro produto de exportação do país em 2005 - subiram 7% em janeiro em relação ao mesmo mês de 2005, passando a US$ 300 milhões. Os 25 países-membros da UE foram o maior destino desses produtos, respondendo por dois terços das compras. A Associação Nacional de Calçadistas da Itália, país onde o setor tem forte peso, considerou a tarifa insatisfatória. O grupo havia pedido tarifas de 50% ou mais.