Título: BB tem lucro recorde de R$ 4,1 bi
Autor: Alex Ribeiro
Fonte: Valor Econômico, 21/02/2006, Finanças, p. C1
Resultado Receita com tarifas e juro alto compensam provisões em empréstimos agrícolas
Apesar de pesadas provisões para fazer frente a possíveis perdas em empréstimos agrícolas, o Banco do Brasil registrou um lucro líquido de R$ 4,154 bilhões em 2005, expansão de 37,4% em relação ao ano anterior e recorde na história da instituição. O retorno sobre o patrimônio líquido chegou a inéditos 26,8%. Com uma carteira de empréstimos rurais de R$ 35,709 bilhões, que responde por 54% do mercado, o BB viveu em 2005 o desafio de, num ano desfavorável para a agricultura, manter uma rentabilidade no mesmo nível de seus rivais do setor privado. Quebras de safra, febre aftosa, queda de cotação de commodities e perda de rentabilidade ligada à apreciação do câmbio levaram o BB a uma provisão de R$ 1,731 bilhão em 2005, alta de 181% em relação ao ano anterior. O banco manteve a lucratividade graças, principalmente, a quatro fatores: menor provisão em outros empréstimos, despesas administrativas sob controle, aumento da receita com tarifas e manutenção de juros básicos relativamente elevados, que garantiram um bom retorno nas operações com títulos públicos. Também pesou positivamente uma vitória de R$ 600 milhões numa disputa judicial com o fisco. O aumento das provisões de empréstimos agrícolas foi contrabalançado, em parte, pela queda ou estabilidade nas provisões para outros empréstimos. Apesar de o volume de crédito a pessoas físicas ter crescido 14,3%, para R$ 18,386 bilhões, as provisões para o segmento encolheram R$ 170 milhões, ou 8,9%, em relação a 2004. "Aumentamos sobretudo o crédito consignado, que tem um risco menor", explicou o presidente do BB, Rossano Maranhão. Essa carteira cresceu 157,9% no ano, chegando a R$ 3,810 bilhões. "Melhoramos a cobrança, fazendo com que nosso índice de inadimplência convergisse para a média de mercado", disse o vice-presidente de crédito e de risco do BB, Adézio Lima. A melhor qualidade do crédito também permitiu que, a despeito do aumento de 15,3% no volume de empréstimos para pessoas jurídicas (para R$ 38,518 bilhões), as provisões para o segmento crescessem apenas 8,7%. O lucro também foi garantido pelo controle das despesas administrativas e aumento da arrecadação com tarifas cobradas de clientes. As despesas com pessoal cresceram apenas 5,3% em 2005, abaixo da inflação do período, medida em 5,7% pelo IPCA. Já as receitas com tarifas tiveram um incremento de 15,8%, chegando a R$ 5,407 bilhões. Uma pequena parcela desse incremento nas receitas de tarifa se deve ao aumento da base de clientes - que se expandiu 8,62%, chegando a 22,907 milhões de correntistas. Mas o grosso foi o aumento dos valores médios cobrados dos clientes. A arrecadação do plano ouro, que é o pacote de tarifas do BB, cresceu 31,31% no ano, chegando a R$ 1,507 bilhão. A expansão se explica também pelo aumento da receita com tarifas de administração de recursos de terceiros (22,71%, para R$ 1,219 bilhão) e anuidade de cartões de crédito (16,81%, para R$ 297,1 milhões). Outro ponto de destaque nos números do BB foi o aumento de 9,8% no resultado com títulos públicos, para R$ 12,419 bilhões. O banco mantém boa receita graças à manutenção da política de juros altos pelo Banco Central. A carteira de crédito do BB cresceu 14,9% em 2005, chegando à marca de R$ 101,789 bilhões. A expansão foi menor do que a do setor privado em geral, que cresceu 25,3% no ano, segundo o BC. Dois fatores explicam esse desempenho inferior ao dos concorrentes. Um deles é a valorização do câmbio, que fez com que a carteira no exterior, em dólares, crescesse apenas 1,98% no ano, quando convertida em reais. A carteira de crédito dentro do país aumentou 16,4%. Outro fator que explica o desempenho do BB abaixo dos concorrentes foi a atuação agressiva dos bancos privados por meio de financeiras, atingindo o segmento de mercado de não-clientes. Rossano confirmou que o BB planeja explorar esse mercado, com a provável abertura de uma financeira nesse semestre. A atenção do BB estará voltada sobretudo para o mercado de financiamento de veículos, que cresceu 33,5% em 2005, chegando a R$ 50,814 bilhões, segundo dados do BC. A carteira do BB, voltada aos seus próprios clientes, é de apenas R$ 300 milhões. "Temos condições de, em pouco tempo, chegar a R$ 2 bilhões", disse o presidente do BB. "Estamos fazendo uma experiência piloto da financeira em seis capitais", disse o vice-presidente de varejo do BB, Antônio Francisco de Lima Neto. Outro nicho que interessa é o de crédito imobiliário. O conselho diretor do banco já aprovou a entrada no segmento, e o que falta agora é a aprovação do conselho de administração e a autorização do BC. Num primeiro momento, explicou Rossano, o produto seria destinado a 600 mil clientes do banco com renda acima de R$ 10 mil. "Não descartamos a compra de carteiras", disse Rossano. "Nas aquisições, o que conta é a oportunidade."