Título: Proposta de fusão entre bancos opõe Polônia à UE
Autor: Assis Moreira
Fonte: Valor Econômico, 21/02/2006, Finanças, p. C12

Sistema Financeiro União de estrangeiros criaria maior instituição do país

O governo conservador da Polônia entrou em rota de colisão com a União Européia (UE) para bloquear uma fusão de duas sucursais estrangeiras que criaria o maior banco do país. Os poloneses recorreram a um tribunal europeu para desmontar a tentativa de juntar o Pekao, filial polonesa do banco italiano UniCredit e o banco BPH, filial do alemão HypoVereinsbnak (HVB). O primeiro-ministro Kazimierz Marcinkiewicz disse ao Valor que a UE julgou mal o impacto dessa operação. Atualmente, os bancos estrangeiros controlam já 80% do mercado polonês. A fusão entre UniCredit e HVB, numa operação envolvendo cerca de US$ 18 bilhões, recebeu em outubro do ano passado o sinal verde da Comissão Européia, o braço executivo da UE. O novo grupo bancário deveria ficar em quarta posição no mercado bancário da zona euro, atrás apenas dos espanhóis Santander e BBVA e do francês BNP Paribas. Teria um balanço de ? 733 bilhões, 28 milhões de clientes repartidos em 19 países, uma rede de sete mil agencias e 139 mil funcionários. A operação envolveu a aquisição pelo UniCredit das filias do HVB na Áustria e na Polônia. Com isso, torna-se ator de primeiro plano na Europa Central. Teria o maior banco na Polônia, na Bulgária e na Croácia. Seria também fortemente presente na Turquia. Na Polônia, a fusão do Pekao, número dois do mercado, com o BHP, o número três, resultaria no maior banco do país. Quando o novo governo polonês foi eleito, em outubro, começaram os sinais de que bloqueariam a operação em seu mercado. A ministra de Finanças, Zyta Gilowska, estrela dos liberais que debandou para o partido conservador, disse que o problema não é de participação estrangeira no mercado polonês, mas uma questão de concentração. "Capital não tem passaporte, mas precisamos cuidar de nossos interesses", disse. "Há, sim, um conflito de interesses entre a Polônia e a Comissão Européia". Para certos analistas em Varsóvia, a questão é que o atual governo prefere reforçar o PKO PB, banco estatal e número um do pais, ao invés de ver um banco italiano tomar mais mercado. Indagado pelo Valor, o primeiro-ministro respondeu que o capital estrangeiro já controla 80% dos ativos bancários no país. Segundo ele, a própria UE constatou que os cinco maiores bancos no país controlam mais de 50% do mercado. "O novo banco teria sozinho mais de 50% em alguns segmentos", alegou. "É uma concentração exagerada." O primeiro-ministro insistiu que o UniCredit também quebrou um compromisso de não adquirir mais bancos no país. Quando os italianos compraram parte do Pekao, em 1999, no processo de privatização, teriam assinado um documento nesse sentido. "O acordo continua válido", disse. Para as autoridades polonesas, há um problema de concorrência e perda de empregos. Para a UE, a Polônia desrespeita a livre circulação de capitais adotada quando da adesão à União, há menos de dois anos. Quando a Comissão Européia aumentou a pressão sobre Varsóvia, o governo polonês reagiu apelando na Corte Européia de Primeira Instância. É a primeira vez que surge no Leste Europeu a contestação de companhia estrangeira no mercado financeiro, e chama mais atenção por ocorrer na Polônia, maior dos países do ex-bloco soviético hoje integrados à UE. Globalmente, os setores bancários dos ex-países socialistas na Europa do Leste se caracterizam por uma presença estrangeira dominante. O capital externo tem 90% dos ativos bancários na Bulgária, 95% na Eslováquia, 87% na República Checa, 77% na Hungria. Isso ocorreu depois que os governos fizeram reestruturações bancárias altamente custosas. A reabilitação dos bancos foi mais cara na República Checa, custando US$ 16,2 bilhões aos cofres públicos, equivalente a 18% do PIB. O custo foi de 16% na Hungria, 13% na Eslováquia, 6% na Eslovênia e 3% na Polônia.