Título: Ministro e produtores divergem sobre safra
Autor: Mônica Scaramuzzo
Fonte: Valor Econômico, 02/03/2006, Brasil, p. A5
Um discurso nada afinado marcou ontem a abertura oficial da safra de cana-de-açúcar 2006/07, na cidade de São Tomé (PR). A destilaria da Cocamar Cooperativa Agroindustrial foi a primeira a dar início à moagem de cana-de-açúcar da nova safra, em um evento com a presença do ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues, e empresários do setor. Em seu discurso, Rodrigues elogiou a decisão da Cocamar de antecipar a produção de álcool para repor os baixos estoques de álcool durante o final da entressafra. O presidente da cooperativa, Luiz Lourenço, contudo, afirmou em seu discurso que o início da moagem não foi antecipado para repor os estoques, uma vez que a usina sempre inicia a safra em março. "Fazer renúncia financeira em benefício de uma demanda nacional é uma coisa formidável", disse o ministro, que foi recepcionado por integrantes do setor de cinco Estados, agricultores e políticos da região. Rodrigues disse que para chegar ao Paraná teve de atrasar sua viagem a Buenos Aires, onde ministros de diversos países estão discutindo a febre aftosa. "Quando fizemos acordo para manutenção do preço [em janeiro], foi combinada a antecipação da safra. Pelo menos parte significativa do acordo está sendo cumprida." Quando questionado sobre o assunto, Lourenço disse que a cooperativa ano a ano tem antecipado a colheita. "Isso não se faz de uma hora para a outra", afirmou. Rodrigues voltou a elogiar a organização do setor privado para garantir a oferta do produto e acrescentou que outras usinas também irão antecipar a colheita. "Moer cana fora de hora não é um bom negócio, mas estamos atendendo a um apelo", disse o presidente da Alcopar (Associação dos Produtores de Açúcar e Álcool do Paraná) , Anísio Tormena. Das 250 usinas do Centro-Sul, 25 unidades, das quais 10 no Paraná, vão começar a operar em março. Mas isso não resulta em prejuízos. Celso Carlos Santos Júnior, superintendente comercial da Cocamar, disse que as perdas na produção são compensadas pelo preço da entressafra. "Não existe renúncia nenhuma. Há um empate", afirmou. Com a antecipação do processo de moagem, espera-se produzir de 800 a 900 milhões de litros de álcool no país até o fim de abril. Rodrigues evitou fazer previsões sobre o comportamento dos preços para o consumidor após o início da colheita e da alteração da mistura da gasolina. "Não faço futurologia", disse ele, que admitiu que a redução da quantidade de álcool na gasolina, que ontem baixou de 25% para 20%, deve durar até o final do ano. A Unica (União da Agroindústria Canavieira de São Paulo) anunciou ontem que a safra 2006/07 deverá ser de 363 milhões de toneladas de cana no Centro-Sul do país, 8% maior que em 2005/06.