Título: Tesouro admite superávit maior
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Fonte: Correio Braziliense, 20/05/2010, Economia, p. 21

Arno Augustin revela que economia extra maior para pagar juros da dívida será uma goleada da Fazenda

Depois de muito relutar, sobretudo para não indicar que está cedendo às pressões do mercado financeiro, o secretário do Tesouro Nacional, Arno Augustin, admitiu que o governo poderá fazer, neste ano, uma economia maior para o pagamento de juros da dívida pública. O chamado superávit primário deverá ficar um pouco acima da meta oficial de 3,3% do Produto Interno Bruto (PIB), o que não será nada difícil diante dos recordes de arrecadação registrados pela Receita Federal. A discussão que se trava dentro do Ministério da Fazenda é se o governo deve anunciar formalmente um novo objetivo ou mantê-lo apenas para consumo interno

Pelo que deixou claro o secretário, a ideia mais forte dentro do governo é fazer um superávit maior com o excedente(1) indo para o Fundo Soberano do Brasil (FSB), como ocorreu em 2008, quando esse instrumento foi criado. Neste momento, porém, estamos preocupados com cumprir a meta (de 3,3%), ou seja, ganhar o jogo. Goleada é depois, afirmou. A seu ver, antes de decidir por uma economia maior de recursos, que ajudaria o Banco Central no combate à inflação, o governo acompanhará com lupa a evolução do quadro fiscal, para medir a eficácia do corte adicional de R$ 10 bilhões no Orçamento deste ano.

Na tentativa de convencer os analistas de que o governo está comprometido com a saúde das contas públicas, Augustin assegurou que a meta de superávit do primeiro quadrimestre do ano, de R$ 18 bilhões, do governo central (Tesouro, INSS e Banco Central) será cumprida com muita folga. Até antes da arrecadação recorde do abril, que passou de R$ 70 bilhões, a desconfiança no mercado era grande quanto à capacidade de se fazer a economia prometida. O superávit dos primeiros três meses do ano havia ficado em apenas R$ 8 bilhões.

O resultado de abril já mostrará a ação contracionista do governo, afirmou o secretário, indicando ser esse um sinal importante do empenho da Fazenda em evitar o crescimento excessivo da economia. Para Augustin, o governo precisa ser cuidadoso nos cortes do Orçamento para preservar os investimentos. Quanto mais tivermos investimentos, melhor, frisou. Ele destacou que as reduções no Orçamento serão formalizadas hoje com o encaminhamento ao Congresso do relatório da programação orçamentária. A definição dos cortes em cada ministério será, porém, feita até o dia 30 próximos.

O mercado aguarda ansioso as informações, pois é grande a desconfiança em relação a um compromisso concreto do governo em botar o pé no freio da gastança em um ano eleitoral, especialmente com o presidente Lula tão empenhado em fazer da petista Dilma Rousseff a sua sucessora.

1 - Visão econômica O secretário do Tesouro Nacional, Arno Augustin, disse que não há hoje na economia brasileira um desequilíbrio mais forte no crédito para o consumo. E observou que as medidas fiscais adotadas pelo governo de corte no orçamento são muito eficientes para conter um crescimento excessivo da economia brasileira. Por fim, ele assegurou que não observa no país um superaquecimento da economia.

Expansão será de 6%

O ministro da Fazenda, Guido Mantega, concordou ontem com a polêmica estimativa do Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC) de que a economia cresceu em torno de 9,85% no primeiro trimestre do ano. Mantega reconheceu que o país passou por um momento de superaquecimento econômico, mas assegurou que a velocidade de expansão já está menor agora, depois que vários estímulos à recuperação já foram retirados.

Na projeção do ministro, a economia brasileira deve crescer próximo de 6% neste ano. O Brasil cresce, mas não como um louco, e sim com inflação e dívida controladas, disse em Madri, onde acompanhou as negociações para um acordo de livre comércio entre União Europeia e Mercosul. Para ele, os Brics (Brasil, Rússia, Índia e China) vão liderar a recuperação global. Os países emergentes responderão por dois terços do crescimento mundial em 2010, disse. Mantega fez apresentações para investidores sobre oportunidades de negócios no país.

Segundo ele, o endividamento relativamente baixo, o consumo forte e os investimentos previstos em grandes obras de infraestrutura assentarão as bases para que a economia brasileira alcance as nações industrializadas nos próximos anos. Enquanto a maioria dos países ricos terá deficit fiscal superior a 3% do PIB, o saldo negativo do país ficará em 1,5%.

BC desqualifica dado

Gabriel Caprioli

O diretor de Política Econômica do Banco Central, Carlos Hamilton, tentou desqualificar ontem o indicador de atividade divulgado recentemente pela instituição, que está apontando um forte crescimento da economia. Mas, depois de fazer várias ressalvas, admitiu que o índice caminha muito próximo do resultado das contas nacionais, divulgado trimestralmente pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O dado oficial do primeiro trimestre sairá no próximo dia 8 de junho. O nosso indicador é importante, mas tem limitações. A aderência (ao número do IBGE) mostra que o departamento econômico do BC faz um bom trabalho, afirmou

Segundo Hamilton, o índice calculado pelo BC aponta que o Produto Interno Bruto (PIB) avançou 2,38% no primeiro trimestre deste ano, em relação aos últimos três meses de 2009, e, na comparação com igual período do ano passado, cresceu 9,85%, valor superior ao previsto pelo Ministério da Fazenda, que estima incremento em torno de 8%. Apesar de as projeções do BC estarem um pouco abaixo das feitas por alguns bancos, como o Itaú Unibanco, que fala em um salto de até 12% para o PIB no primeiro trimestre, os números foram interpretados pelo mercado como um reforço ao discurso de que é preciso aumentar, de forma mais significativa, a taxa básica de juros (Selic).

Nada de novo Mesmo reforçando que as projeções do BC para o PIB não devem ser vistos como definitivos, Hamilton destacou que eles representam um bom parâmetro para se medir a quantas anda o ritmo da atividade econômica. É um índice coincidente da performance da atividade e sinaliza se ela está em expansão, explicou. Segundo o diretor, alguns analistas do mercado já utilizam a informação em suas projeções para o PIB.

Ainda tentando diminuir a importância tomada pelo indicador, o diretor do BC ressaltou que, do ponto de vista estatístico, o número não traz informações novas, mas apenas a consolidação de dados já existentes, como a Pesquisa Mensal de Emprego e a Pesquisa Mensal do Comércio (ambas do IBGE), inflação registrada pelo IPCA e até informações do Sistema Único de Saúde (SUS).

Desde janeiro do ano passado, o indicador vem apurado regionalmente, tendo começando no Rio Grande do Sul e sendo aplicado em outros estados posteriormente. A partir de março (com dados de janeiro), o Banco Central passou a fazer a divulgação da atividade nacional.

EFEITO DA RETOMADA O secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda, Nelson Barbosa, confirmou as projeções do governo de que a economia brasileira crescerá entre 7,5% a 8,5%, no primeiro trimestre, mas destacou que esse desempenho é mais perceptível por marcar a saída da crise financeira mundial. O crescimento mais forte, neste primeiro trimestre, é uma consequência natural da saída da crise e é bom não esquecer que, no trimestre mais agudo da crise, o último de 2008, a economia brasileira caiu mais de 13% e, agora, é normal que ela volte subindo um pouco mais, para depois se acalmar em um novo patamar.