Título: Fundos de pensão ampliam aposta nos investimentos em recebíveis
Autor: Altamiro Silva Júnior e Catherine Vieira
Fonte: Valor Econômico, 02/03/2006, Finanças, p. C2

Os fundos de pensão descobriram os recebíveis. Com as projeções de queda nos juros, as fundações de previdência - que têm carteira de investimentos superior a R$ 285 bilhões - começaram a destinar uma massa considerável de recursos para os Fundos de Investimentos em Direitos Creditórios (FIDCs) e Certificados de Recebíveis Imobiliários (CRI). Segundo levantamento da consultoria Towers Perrin e da NetQuant, os FIDCs já representavam 3% das carteiras de renda fixa dos fundos no fim de 2005. Há um ano, a participação era praticamente zero. Dos 70 fundos pesquisados, 86% investem em recebíveis. Na avaliação da Associação Brasileira das Entidades Fechadas de Previdência Complementar (Abrapp), isso é só o começo. Pelas projeções de Antônio Cruz, diretor da entidade, os recebíveis podem chegar a representar 10% das carteiras das fundações em um prazo de três anos. "Esses são os ativos que mais devem crescer nos próximos dois anos nas carteiras dos fundos", diz. "A demanda está cada vez maior por produtos diferenciados e esses já foram testados pelo mercado com sucesso", completa. "Em 2004, um fundo de recebível era visto como algo exótico. Hoje, boa parte dos fundos já aplica", lembra Marcelo Nazareth, diretor da NetQuant. Entre os fundos que já investem nos recebíveis, como Petros (dos petroleiros), Valia (da Vale do Rio Doce) e Sabesprev (da Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo, a Sabesp), a previsão é aumentar a parcela aplicada, que hoje é de cerca de 1% do patrimônio, para a casa dos 5% no médio prazo. Ricardo Malavazi, diretor de investimentos da Petros, acredita que, como as fundações têm volume alto de recursos e estratégias de longo prazo, é preciso ter agilidade: "Com essa demanda alta e a perspectiva de queda de juro, quanto antes se conseguir a diversificação de ativos melhor, porque enquanto o juro básico não caiu muito, ainda se consegue encontrar prêmios mais interessantes nos ativos diferenciados, como os recebíveis", diz. Segundo ele, a Petros foi uma das primeiras a investir em FIDCs, ainda em 2004. Agora já possui R$ 195 milhões investidos, mas em janeiro já houve a aprovação do investimento em três novos FIDCs. "Nossa estratégia prevê elevar a fatia de recebíveis para 4% da carteira, hoje ela representa cerca de 1%. Ainda há muito espaço para crescer", diz. A carteira da Petros está em cerca de R$ 27 bilhões, o que significa que o fundo ainda pode ter espaço para destinar quase R$ 1 bilhão para ativos diferenciados, como os recebíveis. Manoel Cordeiro, diretor de investimentos da Valia (fundo da Vale do Rio Doce), vai na mesma direção. Para ele, com o cenário que está previsto para a economia brasileira, aqueles que conseguiram se posicionar em ativos reais primeiro vão se beneficiar muito. A Valia também quer elevar para 5% da carteira sua parcela aplicada em ativos "alternativos", o que pode incluir FIDCs, CRIs e fundos de capital de risco, por exemplo. Cordeiro diz que já aplica cerca de R$ 100 milhões em FIDCs, de uma carteira total de R$ 7,5 bilhões. "Nossa estratégia é claramente de buscar ativos reais e alongar prazos, e os recebíveis se enquadram nisso", diz. Na Sabesprev, que começou a comprar recebíveis em julho do ano passado, o que motivou a procura por esses papéis foi a rentabilidade maior aliada um baixo risco. Em seis meses, a aplicação que o fundo fez em FIDCs rendeu 11,4%, equivalente a 193% do CDI. A fundação investiu R$ 10 milhões, cerca de 1,1% da carteira de investimento, contam o presidente do fundo, José Sylvio Xavier, e seu diretor de previdência, Cesar Soares Barbosa. A estratégia agora é elevar esta participação para 5% do patrimônio (de R$ 850 milhões). Outro fundo que promete aplicar mais em recebíveis é a Metros, dos funcionários do Metrô de São Paulo. O fundo aprovou a inclusão dos FIDC na sua política de investimento para este ano. A carteira já tem R$ 8 milhões em CRIs. Fábio Mazzeo, diretor presidente do Metros, conta que tem recebido diversas ofertas de fundos de recebíveis para aplicação. "Com a queda dos juros, a diversificação se torna necessária", diz. Com a forte demanda, no entanto, os investidores institucionais já começam a encontrar taxas menos atrativas e corte no volume que seria aplicado. "Nesta última semana participamos do leilão para um fundo e a demanda foi quatro vezes maior, com isso as taxas que estimávamos que ficariam em CDI mais 0,9% ou 1% acabaram ficando em CDI mais 0,7%", conta Cordeiro, da Valia. "Cerca de 20% dos interessados eram investidores institucionais." Malavazi confirma que a Petros acabou ficando de fora de alguns leilões de FIDCs em que participou por conta dessa precificação. "Antes encontrávamos taxas de IGP ou IPCA mais 12%, agora esse cupom fica no máximo em 10,5%", observa. "A demanda maior está concentrada nos fundos de primeira linha", diz Luiz Mario de Farias, da Towers Perrin. Com a maior procura, o patrimônio dos FIDCs saltou da casa dos R$ 4 bilhões, no fim de 2004, para cerca de R$ 10 bilhões hoje.