Título: Partido quer ampliar consulta sem recorrer a prévia
Autor: Cristiane Agostine e César Felício
Fonte: Valor Econômico, 22/02/2006, Política, p. A5

Preocupados em barrar uma onda de insatisfação com os métodos de escolha do candidato tucano à Presidência da República - definição que até o momento está apenas sob a responsabilidade da cúpula partidária -, dirigentes do PSDB já estudam uma fórmula alternativa para ampliar a consulta política. Internamente, os tucanos admitem erros de estratégia nos últimos dias que levaram a legenda ao desgaste, com a exposição da disputa entre o prefeito José Serra e o governador Geraldo Alckmin. Eles concordam que a realização de prévia é inviável porque poderia provocar um esgarçamento irreversível na campanha eleitoral. O próprio Alckmin, que desembarcou em Brasília na noite de ontem para participar de um jantar com a bancada do PSDB na Câmara, foi categórico e afirmou que "não há razão" para conversar sobre a prévia agora. A nova pesquisa DataFolha que será divulgada nesta semana mostra Serra em posição confortável na disputa. Para os tucanos, a sondagem será crucial na definição. As propostas de ampliação do colégio eleitoral que definirá o candidato vão desde a realização de uma reunião ampliada da Executiva Nacional, para o anúncio da candidatura, até a realização de um ato público com a presença de ambos os candidatos, governadores, prefeitos e parlamentares do PSDB para dar fim à celeuma e divulgar a decisão do partido. Desta forma, ficaria expresso que não apenas dois ou três atuaram na escolha. O presidente nacional do PSDB, senador Tasso Jereissati (CE), vai analisar algumas propostas de parlamentares, entre eles o deputado Alberto Goldman (SP), para ampliação do colégio eleitoral tucano. "A prévia evidentemente não acontecerá porque nós teremos um candidato apenas, por consenso. Agora, algum mecanismo de consulta no partido deve haver", explicou Alberto Goldman. Ontem, após o encontro com Tasso, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e o governador Aécio Neves, em São Paulo, Alckmin deu sinais de trégua. Prestigiou a atuação do trio na busca do consenso partidário e afirmou que a prévia não é inevitável. Ao chegar em Brasília na noite de ontem, para prestigiar o lançamento do livro da esposa, Lu Alckmin, e do secretário de Educação de São Paulo, Gabriel Chalita - "Seis Lições de Solidariedade" -, o governador foi aplaudido num shopping da capital. Ele afirmou que o partido está amadurecendo a decisão da candidatura. Sobre o encontro em São Paulo, disse que se tratou de uma "boa conversa". "Estamos na busca de um entendimento partidário", definiu. Segundo Alckmin, FHC, Tasso e Aécio estão agindo para ouvir todo o partido, mas, às vezes, esse gesto é "mal compreendido". "Quem apostar na divisão do PSDB vai errar. O PSDB está unido", sentenciou, para, em seguida, reiterar que "em nenhum momento" nenhum dos três dirigentes tucanos pediu a ele que retirasse a pré-candidatura à presidência. Alckmin tomou um cafezinho ao chegar no lançamento do livro da esposa. Alguns clientes foram atendidos antes do governador, que não perdeu o bom humor: "Os últimos serão os primeiros". O jantar com a bancada foi realizado na residência do deputado Eduardo Gomes (TO). A intenção do governador era fazer uma exposição aos parlamentares do êxito de sua gestão no estado de São Paulo. "Vamos decidir de forma democrática e consensual. O PSDB é um partido maduro", afirmou o líder da bancada, Jutahy Júnior (BA), que, apesar de ser serrista de carteirinha, marcou presença no jantar e passou o dia ontem fazendo elogios ao governador paulista. "Alckmin é uma grande liderança política do PSDB. Nós, do PSDB, temos o objetivo de vencer a eleição. Não somos aventureiros", afirmou o líder. Para ele, a data da escolha se aproxima e é legítimo que todos os tucanos manifestem suas preferências. "O fundamental é que a decisão seja madura, democrática, e que todas as instâncias partidárias sejam consultadas", disse Jutahy.