Título: "Quem quiser brigar que brigue, mas me deixe trabalhar"
Autor: Cristiane Agostine e César Felício
Fonte: Valor Econômico, 22/02/2006, Política, p. A5

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva mandou um recado ao PSDB e à sua acirrada disputa interna. "A única coisa que eu peço a Deus e peço aos políticos é que quem quiser brigar que brigue. Mas me permitam governar o país até o final do meu mandato, porque tem muita coisa boa para acontecer para o povo brasileiro e é isso que eu tenho que fazer", declarou em Petrolina, onde foi lançar a pedra fundamental da Universidade do Vale do São Francisco (Univasf). Em Juazeiro (BA) e Petrolina (PE) ele foi recebido por militantes petistas e por integrantes de movimentos sociais, posou para fotos abraçado em meio a vaqueiros e sertanejos. Com agenda de candidato - durante o dia de ontem o presidente visitou as duas cidades do vale do submédio São Francisco e o município de Arapiraca (AL) e no começo da noite estava programada a entrega das obras do Aeroporto Internacional dos Guararapes, em Recife -, a primeira visita começou por Juazeiro, onde foi lançada a pedra fundamental do campus da Univasf. Na ocasião, enfatizou as ações de seu governo na área educacional. O tom mudou no fim, quando ele disse que "possivelmente na outra encarnação eu fui baiano em algum momento da minha vida". A partir daí Lula começou a citar dados relacionados ao Programa Nacional de Agricultura Familiar (Pronaf) à eletrificação rural e ao Bolsa-Família e disse que os pobres da Bahia nunca foram tão bem cuidados como em seu governo. "Eu duvido que desde o dia em que o Brasil foi descoberto, teve algum governo que cuidou mais dos pobres da Bahia do que nós estamos cuidando neste governo", discursou. A menção à reeleição veio no momento em que Lula disse que "não é possível fazer em quatro anos aquilo que não foi feito em 500 anos pelo nosso país". No vizinho município de Petrolina, onde também participou do lançamento da pedra fundamental do campus da Univasf, Lula também disse que suas viagens pelo país irão continuar. "Eu vou percorrer cada obra que nós anunciamos para saber se ela está andando porque primeiro a gente anuncia e depois nada acontece. Aliás, no Brasil é habitual isso, no Brasil é habitual as pessoas anunciarem as coisas e as coisas não acontecerem", afirmou. Pressionado por jornalistas que queriam saber como ele avaliava os resultados das últimas pesquisas que apontam para um crescimento de sua popularidade e sobre a escolha do candidato majoritário do PSDB, Lula disse que sua preocupação no momento era governar. Em seguida o presidente seguiu para Arapiraca (AL) onde também participou do lançamento da pedra fundamental do campus da Universidade Federal de Alagoas (Ufal). No início da noite o presidente chegou ao Recife (PE) para inaugurar, pela segunda vez, o Aeroporto Internaciopal dos Guararapes. Em discurso, Lula anunciou que vai vetar o projeto de anistia à dívida agrícola. "Vou vetar o projeto. Tem gente que não quer pagar e aí aparece um deputado para anistiar. Então o Tesouro passa a arcar com R$ 20 a R$ 30 bilhões de prejuízo. Essas coisas acontecem às vésperas de eleição. Todo mundo fica de coração mole. Isso não é possível", afirmou.. Recebido em clima de campanha, ao refrão de "Olê, Olê, Olê, Olá", Lula fez referências indiretas à sua reeleição - "As coisas agora desabrocharam e não existe razão para se voltar atrás". Ao mencionar a inauguração de novas universidades federais, Lula disse que "o corpo humano só é perfeito porque tem cabeça, tronco e membros". Com as novas universidades, estaria cuidando da cabeça. Hoje, o presidente viaja aos Estados do Piauí, Maranhão e Pará.