Título: PSDB paulista apóia Alckmin e sela racha
Autor: Cristiane Agostine e César Felício
Fonte: Valor Econômico, 22/02/2006, Política, p. A5

Eleições Tasso Jereissati diz que falta de entendimento sobre candidatura será um "fracasso pessoal"

O governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, pré-candidato à Presidência pelo PSDB, tornou ontem ainda mais difícil a construção de um consenso em torno da candidatura do prefeito de São Paulo, José Serra. Alckmin recebeu para um almoço o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, o governador mineiro Aécio Neves e o presidente da sigla, senador Tasso Jereissati (CE), com uma demonstração de força: a unanimidade de toda bancada estadual tucana, formada por 22 parlamentares, além do apoio fechado do diretório estadual do partido. Durante o almoço, o trio não fez um apelo para que Alckmin aceitasse a hipótese de retirar a candidatura, como os serristas esperavam. "Não estou pedindo a ninguém que desista de nada", disse Tasso, no fim do encontro, voltando a admitir a possibilidade de a candidatura não ser decidida pela cúpula da sigla: "No caso de não haver um entendimento, poderemos discutir critérios para alguma disputa. Mas, continuo acreditando que podemos chegar a um entendimento". O senador cearense garantiu, de forma categórica, que nenhum dirigente pediu para que um dos dois postulantes desista, mas que ambos avaliem as circunstâncias de suas candidaturas. "Para mim vai ser um fracasso pessoal muito grande se não conseguir esse entendimento", afirmou. O resultado da reunião foi avaliado como positivo pelo governador, que deixou claro mais uma vez não estar disposto a retirar sua candidatura para viabilizar o consenso em torno de seu adversário. Com a demonstração de força local e manifestações isoladas, como a da viúva do antigo governador Mário Covas, Lila, contra a saída de Serra da prefeitura, o prestígio demonstrado pelo prefeito ao reunir a cúpula tucana em um restaurante de luxo em São Paulo, na semana passada, teria sido neutralizado. Os dirigentes do partido que tendem para Serra também consideraram a reunião da semana passada estrategicamente errada, já que, ao não ser acompanhada de uma manifestação explícita para o governador retirar a candidatura, permitiu que Alckmin arregimentasse apoios dentro e fora de São Paulo. Se não ganhar a candidatura, Alckmin deixou claro que Serra não terá como ser candidato sem o seu apoio explícito. A recíproca, entretanto, não é verdadeira. Presidente do diretório estadual paulista, o deputado Sidney Beraldo transmitiu a manifestação de apoio a Alckmin ao próprio José Serra, que estava no Palácio dos Bandeirantes. O prefeito foi à sede do governo estadual para assinar um convênio de cessão de terrenos. Antes da solenidade, teve um encontro com o governador, assistido pelo secretário estadual da Casa Civil, Arnaldo Madeira, e o secretário municipal de Governo, Aloysio Nunes Ferreira Filho. Segundo Serra, tratou-se apenas de questões administrativas. "A renúncia de Serra poderia trazer um prejuízo à imagem do partido e a ele mesmo", argumentou Beraldo, depois de se encontrar com o prefeito. Beraldo defendeu uma consulta à base partidária, um dos temas debatidos depois por Alckmin com o "triunvirato" tucano, que durou três horas. Durante a tarde, Alckmin continuou com a sua movimentação agressiva pela candidatura. Viajou para um jantar em Brasília, com a bancada do PSDB no Congresso. Foi recebido na casa de um apoiador de Serra, o deputado licenciado Eduardo Gomes (TO). O deputado tocantinense, antes do jantar, afirmou que a ala serrista diria que a consulta direta às bases feita pelo governador não era bem vinda e proporia uma condição: "Ele receberá o apoio caso o partido o defina como candidato. Mas se o escolhido for o Serra, Alckmin deverá apoiá-lo de forma incondicional". No rastro do governador, Serra também foi à Brasília, para a posse do presidente do Tribunal Superior Eleitoral, Gilmar Mendes. O limite estabelecido pelos dirigentes para resolver o dilema é a primeira quinzena de março.