Título: Produtor de cana quer ser pago com açúcar e álcool
Autor: Mônica Scaramuzzo
Fonte: Valor Econômico, 22/11/2004, Agronegócios, p. B-10

Os plantadores de cana-de-açúcar do país querem mudanças no atual modelo de pagamento pela tonelada da matéria-prima entregue às usinas sucroalcooleiras. Eles estão dispostos a receber o pagamento em produto. Ou seja, açúcar ou álcool, ou em preço equivalente desses produtos no mercado, disse ao Valor Antonio Celso Cavalcanti de Andrade, presidente da Federação dos Plantadores de Cana do Brasil (Ferplana). O atual modelo de pagamento, vigente no Brasil desde 1998, com o fim da desregulamentação do setor, é o Consecana. Por esse atual modelo, o cálculo é feito com base no quilo médio da ATR (açúcar total recuperável). Esse índice, determinado mensalmente, leva em conta a qualidade da cana, o mix de produção das usinas e os preços alcançados pelo produto no mercado externo. Em alguns casos, o plantador não recebe 100% do pagamento mo mês da entrega e esse saldo é postergado para o fim da safra. Quando isso ocorre, há um cálculo médio da ATR dos meses de maio a abril (ano-safra) para um ajuste no fim da safra. "Parece a fórmula da bomba atômica", ironizou Andrade. Segundo ele, os preços do açúcar e do álcool estão firmes nos últimos meses, mas os produtores de cana - cerca de 60 mil em todo país -não participam desta vantagem. Desde o início da safra 2004/05, os preços do açúcar e do álcool acumulam alta de 25% e 100%, no mercado interno, respectivamente. Para discutir essas mudanças, produtores e usinas devem se reunir, no dia 25, em Brasília, informou Ângelo Bressan, diretor de açúcar e álcool do Ministério da Agricultura. Osvaldo Alonso, diretor da Associação dos Plantadores de Cana do Oeste do Estado de São Paulo (Canaoeste), concorda que esse modelo precisa ser revisto, mas não poderá contemplar base de troca de cana por produtos, como querem alguns plantadores. A média Consecana em São Paulo ficou R$ 33,12 em outubro. Na Paraíba, por exemplo, alguns produtores de cana recebem em valor equivalente aos preços vigentes do álcool. Em Pernambuco e em Araraquara, os pagamentos são em sacas de açúcar, disse Andrade, da Ferplana. Em Araraquara (SP), o acordo fechado entre os produtores e parte das usinas da região prevê o pagamento em saca de açúcar. O produto fica estocado na usina, e o açúcar é vendido a preço de mercado, com o valor repassado ao produtor, explicou José Carlos Bassanesi Teixeira, presidente da Associação dos Produtores de Cana de Araraquara. Em outubro, os produtores receberam em valor equivalente a açúcar R$ 42 (por tonelada de cana), livre de impostos e frete, enquanto o sistema Consecana pagaria R$ 28, segundo Teixeira. Há entre os produtores da região de Araraquara, um total de 900, a intenção de se construir um armazém para estocar o açúcar recebido como pagamento. Na Paraíba, o valor é pago em produto equivalente a álcool, uma vez que os produtores não possuem meios para estocar o combustível, explicou José Inácio de Morais, presidente da Associação dos Plantadores de Cana da Paraíba (Asplan). Morais disse que não é totalmente contra o sistema Consecana, mas afirmou que o modelo precisa passar por reformulações para que possa remunerar melhor o produtor. No mês passado, os paraibanos receberam pela tonelada R$ 42,80 pelo preço equivalente em álcool. Eles receberiam R$ 33 pelo modelo Consecana.