Título: Parceiros em paz
Autor: Vera Batista
Fonte: Correio Braziliense, 21/05/2010, Economia, p. 16

Depois de um puxão de orelhas do Fundo Monetário Internacional (FMI), Alemanha e França resolveram conversar para afinar o discurso e coordenar suas ações em defesa da moeda única europeia, o euro. No dia seguinte à decisão alemã de banir os especuladores de seu mercado financeiro, o diretor-gerente do FMI, Dominique Strauss-Kahn, partiu em defesa da unidade e afirmou que a Europa precisa de uma coordenação de política econômica mais forte. A ideia de que você pode ter uma moeda comum e cada um poder fazer o que quiser é falsa. E continuou: você precisa de um instrumento para fazer as políticas consistentes. A França pode chamar isso de governança econômica e a Alemanha, de Pacto de Estabilidade. Não faz diferença como se chame. Por fim, lembrou que o crescimento na Europa está muito baixo, em parte devido à fraca produtividade. A Alemanha e outros países precisam urgentemente comprometer-se com algo para acelerar o crescimento, concluiu Strauss-Kahn. O pito do FMI, dado publicamente por meio dos jornais alemães, alcançou seu objetivo. A chanceler alemã, Angela Merkel, e o presidente francês, Nicolas Sarkozy, conversaram e decidiram coordenar os esforços de suporte do euro tomadas por seus países. Eles acordaram ainda que trabalharão juntos nas próximas cúpulas. Eles concordaram que Alemanha e França coordenarão de perto uma com a outra, na reunião que começa em 21 de maio em Bruxelas, disse o porta-voz de Merkel, Ulrich Wilhelm.

Falta de confiança O entendimento foi feito no dia em que a Comissão Europeia divulgou uma estimativa da confiança do consumidor na Zona do Euro, que caiu com força em maio. O indicador caiu de -15 em abril para -17,5 em maio nos 16 países que usam o euro. Em toda a União Europeia, com 27 países, a confiança caiu de -12,3 em abril para -14,7 em maio. Em meio ao ceticismo da população, a chanceler alemã voltou a defender ações com o objetivo de proteger o euro. Ela reiterou que restaurar a confiança no euro é sua prioridade e exigiu uma regulação mais forte para proteger a moeda única e ação conjunta da União Europeia para retirar as medidas de estímulo à economia. Merkel afirmou que os problemas da Zona do Euro precisam ser cortados pela raiz, dizendo que as regras da região precisam ser endurecidas. Mais uma vez, o FMI saiu em campo para aparar as arestas. Dominique Strauss-Kahn, em entrevista a um canal francês, disse que a Alemanha e a França não devem buscar reduzir rapidamente seus deficits orçamentários pois isso poderia debilitar o crescimento. E voltou a afirmar que a Zona do Euro precisa de uma governança econômica forte e de uma política de crescimento para superar a atual crise. Declarando não discordar da necessidade de Grécia, Portugal e Espanha diminuírem suas dívidas, Strauss-Kahn disse estar preocupado com os planos de austeridade de outros países da Zona do Euro.