Título: Portobello reestrutura operação para enfrentar dólar fraco e China
Autor: Vanessa Jurgenfeld
Fonte: Valor Econômico, 22/02/2006, Empresas &, p. B9

Cerâmica Plano incluiu corte de pessoal, redução de produção e troca de fornecedores

A Portobello, uma das maiores indústrias de revestimentos cerâmicos do país, deu início a um processo de reestruturação das operações. A empresa, uma das grandes exportadoras do setor, cortou pessoal, passou a comprar menos de terceiros e fez paradas sucessivas de seus fornos como ajustes para o cenário adverso. Com as mudanças, a Portobello pretende ter um 2006 menos difícil. "O ano passado foi um ano muito duro. Tivemos as margens bem reduzidas", explica o diretor de relações com investidores, Mário Baptista Detentora de 17 linhas de produção, a empresa desligou três simultaneamente no fim do ano. E foi seguindo uma seqüência de liga e desliga linha até que seu estoque baixasse. Durante esse tempo, aproveitou para dar férias a alguns funcionários, mas não evitou os cortes. Cerca de 100 pessoas foram demitidas, a partir de novembro, sendo 23 ainda em janeiro. "Se não tivesse sido tão difícil, pararíamos uma linha de cada vez e não três de uma só vez", diz Baptista, acrescentando que os estoques começaram a ficar altos a partir de julho de 2005. As medidas ainda incluíram renegociação com fornecedores e substituição de alguns em que a empresa não chegou a um bom parâmetro de contrato. "Botamos nossa equipe inteira para racionalizar custos de produção e na parte administrativa", diz. A meta da empresa era reduzir, por exemplo, em média 8% os custos de produção, número, que segundo o executivo, ela está prestes a alcançar. Como forma de adequação, a Portobello também reduziu o volume de compra de terceiros. Dos dois mil tipos de pisos que fabrica, 12% eram comprados fora. Neste ano, a participação dos terceiros será de menos de 5%. "Passamos também a importar. Estamos agora comprando rolo refratário da China", destaca. A situação vivida pela Portobello reflete o cenário complicado para boa parte do setor cerâmico desde o ano passado. Além do dólar desvalorizado, as empresas estiveram frente a problemas com o aumento do gás natural boliviano (100% do abastecimento catarinense é feito por esse gás), com a concorrência dos importados chineses e com a falta de investimento do brasileiro na construção civil em 2005. Recentemente, a Asulcer, associação que representa indústrias do setor, divulgou comunicado em que dizia que embora as empresas vissem como positivas recentes mudanças no ICMS (Santa Catarina e São Paulo reduziram a alíquota para 12%), elas não eram suficientes para o crescimento em um cenário tão difícil. A entidade reclamou da concorrência com os chineses, que é hoje a maior ameaça ao setor. De acordo com a Asulcer, a China já está conquistando mercados externos antes dominados pelo Brasil, como os Estados Unidos. Em um período de seis anos, os chineses aumentaram em oito vezes o volume de exportação em metros quadrados para os Estados Unidos, enquanto o faturamento aumentou em quase 10 vezes. Para os exportadores brasileiros de porcelanato (cerâmica mais sofisticada e resistente), não há ainda sinais de melhora. O dólar segue nova queda com as recentes medidas do governo de incentivar investidor estrangeiro no Brasil. E mesmo os incentivos na habitação, ainda que sejam sentidos na área de acabamentos, são esperados para ter um reflexo lento no setor, geralmente o último a sentir as melhoras pela natureza do produto que fabrica. A Portobello, depois dos ajustes, acredita que há um cenário melhor, mas é difícil de definir o que está por vir. "Prevemos que as exportações diminuirão em 2006. Em vez de 50%, responderão por 45% do faturamento", diz Baptista. "Mas à medida que o mercado interno aquecer, isso deve diminuir mais". Segundo o executivo, a temporada de ajustes é dada como encerrada. No balanço mais recente, até setembro de 2005, a Portobello apresentava prejuízo de R$ 5 milhões. O resultado operacional estava negativo em R$ 5,2 milhões. A dívida com fornecedores era de R$ 64 milhões e o passivo exigível a longo prazo era de R$ 87,3 milhões.