Título: Crise da aftosa racha Ministério da Agricultura
Autor: Mauro Zanatta
Fonte: Valor Econômico, 22/02/2006, Agronegócios, p. B12

Sanidade

O secretário de Defesa Agropecuária do Ministério da Agricultura, Gabriel Maciel, está perto de deixar o cargo por causa do desgaste nas suas relações com o ministro Roberto Rodrigues. Em surpreendente nota pública, Rodrigues cobrou Maciel pelo descumprimento de uma determinação sua para suspender "de imediato" a emissão de certificados de exportação de carne para a Rússia. Em tom severo, o ministro pediu explicações de Gabriel Maciel e estendeu a responsabilidade ao diretor de Inspeção de Produtos de Origem Animal (Dipoa), Nelmon Oliveira. O ministro afirmou que havia mandado suspender os certificados desde 8 de fevereiro, mas a SDA, "contrariando expressa determinação feita ao diretor do Dipoa", fixou o dia 20 como limite para a emissão dos certificados, alterando novamente para o dia 23. "Determino a Vossa Senhoria que verifique as razões para o descumprimento do acordado, e tome as providências cabíveis", diz a nota do ministro. Nas entrelinhas, Rodrigues empurrou para ambos a responsabilidade por eventuais irregularidades nos embarques para a Rússia. O jornal "O Estado de S.Paulo" denunciou que empresários brasileiros pagam propina a importadores russos para driblar o bloqueio imposto ao país em função da febre aftosa. O desgaste de Maciel, importante operador das medidas de controle do surto de febre aftosa no país, começou com a demora no repasse dos recursos aos Estados pelo ministério, no início de outubro. Em um documento interno, Rodrigues culpou diretamente Maciel pelo atraso. À época, o Mato Grosso do Sul, que comunicara um foco da doença, não havia recebido nenhum centavo dos R$ 3,5 milhões previstos para o combate à doença. O secretário não gostou da cobrança por entender que não tinha responsabilidade. As relações esgarçaram, mas continuaram respeitosas. Agora, a cobrança pública de Rodrigues expôs o secretário e pode precipitar sua saída. Indicado diretamente ao presidente Lula pelo governador pernambucano Jarbas Vasconcellos (PMDB), Maciel chegou ao governo federal credenciado pela erradicação da aftosa em Pernambuco quando foi secretário de Agricultura do Estado e pela reestruturação do Fórum Nacional dos Secretários Estaduais de Agricultura. Filiou-se ao PFL e conta com amplo trânsito na bancada do Nordeste. Doutor em botânica e genética nos Estados Unidos e na Índia, o secretário tem sofrido, segundo auxiliares, com a dificuldade em controlar algumas áreas de sua secretaria, mesmo problema de antecessores recentes. Historicamente dirigida por um grupo de veterinários, a SDA é apontada como corporativista. Resistiria a cumprir ordens de dirigentes estranhos à carreira e reagiria a intervenções superiores, inclusive do próprio ministro. Antes de Maciel, o atual chefe de gabinete do ministro, o agrônomo Maçao Tadano, teria deixado o posto exatamente por pressões internas. Há, de acordo com assessores do ministério, uma divergência histórica entre agrônomos e veterinários, além de parte dos dirigentes ser apontada como "muito próxima" de deputados, senadores e empresários do setor.