Título: Conta corrente tem déficit de US$ 452 mi
Autor: Alex Ribeiro
Fonte: Valor Econômico, 22/02/2006, Finanças, p. C1

Setor Externo Resultado negativo é influenciado pelas remessas de lucros e dividendos e despesas com juros

O país registrou um déficit em conta corrente de US$ 452 milhões em janeiro, rompendo seqüencia de 13 meses de resultados positivos. Pesaram desfavoravelmente as altas despesas com pagamentos de juros da dívida externa e as remessas de lucros e dividendos, que consumiram o ainda vigoroso saldo positivo no comércio exterior. De acordo com números divulgados anteriormente pelo Ministério do Desenvolvimento, a balança comercial teve superávit de US$ 2,844 bilhões em janeiro, expansão de 30,04% em relação ao mesmo mês do ano anterior. Mas os dólares do comércio se mostraram insuficientes para cobrir as vigorosas remessas de rendas ao exterior. As remessas de lucros e dividendos chegaram a US$ 1,540 bilhão em janeiro, alta de 313,98% em relação os dados do período correspondente de 2004. Não se trata de um fenômeno exatamente novo - a repatriação de lucros tem se mantido elevada desde o início de 2005 -, mas o movimento surpreendeu pela intensidade. Até o dia 20 de janeiro, elas se mantinham em US$ 834 milhões, o que levou o BC na época a projetar um superávit de US$ 300 milhões em transações correntes para o mês passado. Em fevereiro, até o dia 21, as remessas somam US$ 696 milhões. O chefe do Departamento Econômico do BC, Altamir Lopes, afirma que dois fatores explicam as elevadas remessas: 1) real mais apreciado, que amplia o volume de capitais estrangeiros no país, quando convertidos em moeda estrangeira; 2) lucros mais robustos das empresas. Também mostraram-se particularmente altos os pagamentos de juros da dívida externa, que somaram US$ 1,678 bilhão, expansão de 64,35% em relação a janeiro de 2004. Lopes explica que, neste ano, houve uma maior concentração de vencimentos de juros em janeiro, em virtude de novas emissões soberanas com pagamento de cupom concentrado nesse mês. Em fevereiro, os juros somam US$ 1,014 bilhão, até o dia 21. No ano como um todo, porém, não tenderá a haver pressão de adicional de pagamentos de juros - a projeção é que a despesa chegue a US$ 13,1 bilhões em 2006, número levemente inferior aos US$ 13,5 bilhões de 2005. Juntando os serviços de fatores de produção (juros, lucros e dividendos), observa-se um déficit de US$ 3,218 bilhões em janeiro, cifra que supera em US$ 374 milhões o saldo comercial. Os serviços não fatores tiveram um déficit de US$ 419 milhões, com alta de 45%, sempre na comparação entre janeiro de 2005 e de 2006. Em alto verão, período favorável na atração de turistas estrangeiros, a conta de viagens internacionais registrou superávit de apenas US$ 5 milhões, ante US$ 44 milhões em 2004. As receitas de turistas que visitam o Brasil cresceram 18%, chegando a US$ 402 milhões. Mas, puxado pelo dólar barato e pelo aumento da renda, as despesas de brasileiros no exterior cresceram 34%, chegando a US$ 397 milhões. Também houve crescimento nas despesas líquidas com aluguel de equipamentos (38,7%, para US$ 355 milhões) e computação e informações (18,6%, para US$ 153 milhões). O resultado em conta corrente em janeiro fecha com o ingresso de US$ 308 milhões em remessas unilaterais - dinheiro remetido ao país, feito principalmente por brasileiros que vivem no exterior.