Título: Analistas vêem risco de queda ainda mais forte
Autor: Altamiro Silva Júnior
Fonte: Valor Econômico, 22/11/2004, Finanças, p. C-2

Os analistas são unânimes: um dos principais riscos no cenário econômico internacional atual é a queda mais forte e descontrolada do dólar contra as outras moedas. "As conseqüências de uma desvalorização descontrolada do dólar seriam explosivas", acredita o economista-chefe para América Latina do WestLB, Ricardo Amorim. A razão: o epicentro do furação desta vez seriam as economias mais desenvolvidas e não os países emergentes, como nas últimas crises cambiais. Em palestra no Brasil, ele afirmou ser esse o maior risco para 2005. "As crises de desvalorização forte do dólar foram muito sérias e exigiram a atuação dos governos dos países ricos", concorda Luis Fernando Lopes, economista do Banco Pátria. O próprio presidente do banco central americano (Fed), Alan Greenspan, afirmou na sexta-feira que vê com preocupações o crescimento no déficit em transações correntes americano. Suas declarações provocaram uma nova desvalorização do dólar contra o euro e o iene, de 0,48% e 1,05% respectivamente só na sexta-feira, segundo a Bloomberg. O euro chegou a US$ 1,3023, enquanto o dólar foi a 103,10 ienes. O ministro da Fazenda brasileiro, Antonio Palocci, se mostrou mais tranqüilo. Em entrevista à "Reuters", de Berlim, na sexta-feira, ele afirmou que o "nível de ajustes atual não é tão grande". "Se tivéssemos um movimento forte nas taxas de câmbio -o dólar frente outras moedas- aí seria preocupante", disse Palocci. Para ele, "se você olha para o cenário internacional, não é uma mudança de proporções preocupantes, é um ajuste." Para Amorim, o déficit em transações correntes nos Estados Unidos deve crescer, pois as importações deverão continuar a aumentar em ritmo maior do que as exportações. O ajuste via câmbio mais fraco parece ser a alternativa encontrada pelo governo americano para reverter essa situação. O problema, nota Amorim, é que os bancos centrais dos países asiáticos exportadores são os principais financiados do déficit fiscal americano, comprando títulos do Tesouro dos EUA. Se o dólar cair muito frente a essas moedas, esses países podem ter redução de reservas e os EUA podem ter problemas para financiar seu déficit fiscal. Em um cenário como esse, os títulos do Tesouro dos Estados Unidos teriam altas fortes de taxas, por causa das quedas nos preços, impactando negativamente os prêmios de risco dos países emergentes. "Uma desvalorização forte do dólar na Ásia poderia ser consequências recessivas, visto que os países passariam a exportar menos e a consumir menos produtos de outros países, inclusive do Brasil", diz Hugo Penteado, economista-chefe do ABN Asset Management. O ritmo e os prazos da mexida na moeda chinesa, o yuan, também serão determinantes nesse processo. Mas, se a desvalorização do dólar for gradual contra o euro e as moedas asiáticas, o movimento pode até trazer mais competitividade para o Brasil, lembra Mônica Oliveira, economista do Banco Brascan. Tudo vai depender, nesse caso, do ritmo de valorização do próprio real. O enfraquecimento do dólar contra o real está ajudando o Banco Central brasileiro a segurar a inflação neste momento, e, por isso, parece que a autoridade monetária não pretende atuar. Além disso, como lembrou o economista-chefe do Bradesco, Octavio de Barros, a valorização do real ajuda a reduzir o valor da dívida pública nas mãos do mercado. Segundo ele apontou em relatório, desde dezembro de 2002 até outubro deste ano o resgate líquido da dívida interna indexada ao câmbio chegou a US$ 34,7 bilhões. Assim, enquanto no final de 2002 uma alteração de 1% na taxa de câmbio provocava uma mudança de 0,36 ponto percentual na relação entre a dívida e o Produto Interno Bruto (PIB), agora esse impacto é de apenas 0,14 ponto percentual. Ao rever sua projeção para a taxa de câmbio no final de 2004 para R$ 2,80, a projeção do Bradesco para a relação dívida/PIB foi reduzida de 55,1% para 54,6%.