Título: Valor do dólar já está nos mesmos níveis da época da desvalorização
Autor: Altamiro Silva Júnior
Fonte: Valor Econômico, 22/11/2004, Finanças, p. C-2

A queda do dólar nos últimos dias levou as cotações da moeda americana, quando ajustadas pelo IGP-DI, a atingir valores da época da desvalorização do real, em janeiro de 1999, segundo um levantamento da Economatica. Levando-se em conta a inflação, US$ 1 do início de janeiro daquele ano valeria hoje R$ 2,88, ou seja, pouco acima do fechamento da sexta-feira, de R$ 2,78 (na quarta, o moeda bateu em R$ 2,76). Já descontando-se o IPCA (o índice oficial de inflação), a moeda começou 1999 valendo R$ 1,99 e terminou o mês em R$ 3,19. Segundo Fernando Exel, presidente da Economatica, o objetivo do estudo foi ver o poder aquisitivo do dólar no mercado brasileiro (em outras palavras, o valor real da moeda americana). A conclusão é que um dólar hoje compra menos do que um dólar do início de 1999.

Alexandre Póvoa, sócio-diretor da Modal Asset Management, fez a mesma comparação, mas usando uma sesta de moedas (dos países que o Brasil mais negocia, como Estados Unidos, Argentina, China e a zona do euro). Ele fixou um índice (que mostra a paridade entre o real e as moedas desta sesta) no valor de 100 em julho de 1994, data de início do Plano Real. Em 1995, esse índice caiu para 73 (na época, um dólar custava menos de um real). Pouco antes da desvalorização, em 1999, estava em 80 e depois saltou para 127. No pior momento após a liberação do câmbio, durante as eleições presidenciais de 2002, o índice bateu em 175 (quando o dólar chegou a valer mais de R$ 4) e agora, com a queda da moeda americana, está em 123 - ou seja, praticamente no mesmo nível dos dias seguintes à desvalorização do real. "Isso mostra que o real está perdendo competitividade frente a outras moedas, desde que a gente considere que não houve alterações na produtividade, que também pode afetar a competitividade", diz Póvoa. Para ele, um dos fatores que explica a queda do dólar nas últimas semanas é a alta liquidez no mercado mundial. "A aversão ao risco dos grandes investidores globais está muito baixa", ressalta. "Eles estão atrás de ativos com bons retornos e o Brasil é um dos mercados mais procurados." Outro ponto é o superávit da balança comercial, que acumulava saldo de US$ 29,350 bilhões este ano, até o último dia 14. Exel, da Economatica, ressalta que a queda do dólar foi compensada pelo aumento do preço das commodities exportadas pelo Brasil (como aço e celulose) no mercado internacional. "Com isso, a balança comercial não foi comprometida", explica.