Título: CPI dos Correios pode pedir quebra de sigilo contábil do PT
Autor: Paulo de Tarso Lyra
Fonte: Valor Econômico, 23/02/2006, Política, p. A7

O relator da CPI dos Correios, deputado Osmar Serraglio (PMDB-PR), vai pedir a quebra do sigilo contábil do PT. O requerimento chegou a ser apresentado na reunião da CPI, realizada na noite de terça, mas o tumulto provocado pelos aliados do governo impediu a votação do pedido. A intenção de Serraglio é confrontar o sigilo contábil com os sigilos bancário e fiscal do partido, que estão disponíveis à CPI. Assessores da comissão desconfiam de que haja divergência entre a movimentação financeira do partido e a do livro-diário. O presidente do PT, deputado Ricardo Berzoini (SP), ironizou a proposta de Serraglio. Segundo ele, o pedido busca criar um fato político, de pouco proveito para a investigação. "A contabilidade do PT é aberta. Como receptor do Fundo Partidário, temos que prestar contas ao Tribunal Superior Eleitoral. Basta consultar na internet". A líder do PT no Senado, Ideli Salvatti (SC), defendeu que se quebre o sigilo de todos os partidos que tiverem envolvimento com o mensalão, inclusive o PSDB. "É um factóide do Serraglio. Ou se quebra de todo mundo ou não se quebra de ninguém", protestou. Para o deputado Gustavo Fruet (PSDB-PR), se forem quebrados todos os sigilos, a CPI estará corroborando a tese de caixa 2. "Nós sabemos que isso não é caixa 2 e sim, esquema de corrupção para compra de deputados", disse o tucano. Ontem foi mais um dia de polêmica em torno do relatório parcial da sub-relatoria de Fundos de Pensão. Ideli apresentou requerimento questionando se a consultoria Ernst & Young teria participado do relatório do deputado Antonio Carlos Magalhães Neto (PFL-BA). "A Ernst & Young é uma empresa séria. Não concordaria com esse relatório absurdo". ACM Neto respondeu. "Absurdo são os números apresentados pela senadora. Ela comparou grandezas diferentes, omitiu dados e quis vender uma idéia falsa: de que não houve favorecimento dos fundos de pensão aos bancos Rural e BMG", completou. ACM Neto anunciou que nas próximas semanas a sub-relatoria ouvirá o ex-assessor da Casa Civil, Marcelo Sereno, suspeito de fazer indicações políticas para as diretorias do fundos. O relatório do deputado baiano também foi mal recebido pelo setor privado. "O deputado fala dos investimentos crescentes em 2004, mas não explica a queda em 2003. É um mercado complexo o suficiente para exigir uma abordagem técnica, e não política, de seu comportamento", disse Fernando Pimentel, presidente da Associação Brasileira de Previdência Privada (Abrapp), que reúne os fundos fechados. (Colaborou César Felício, de São Paulo)