Título: Gripe das aves gera temor no município
Autor: Cibelle Bouças
Fonte: Valor Econômico, 23/02/2006, Agronegócios, p. B14

O avanço da gripe das aves em países da Ásia, Europa e África gera uma preocupação crescente nas granjas comerciais de postura do país. Em Bastos, a doença tornou-se assunto recorrente mesmo entre comerciantes e adolescentes que freqüentam restaurantes e bares. O temor é justificado. Cerca de 80% da economia do município gira em torno da produção de ovos. E, conforme contam os produtores, boa parte das granjas não está adaptada para evitar o contato das matrizes com aves silvestres e migratórias - potenciais portadoras do vírus letal da gripe, o H5N1. "A telagem [uma das exigências do Ministério da Agricultura para prevenir a doença] é um paliativo, mas não resolve o problema. Se uma ave pousa sobre a tela, o vírus não se dissemina?", questiona Welington Koga, dono da Granja Koga, que produz cerca de 2 mil caixas de 30 dúzias de ovos por dia. Ele também critica o fato de o Ministério do Desenvolvimento Agrário ter iniciado em 2005 a doação de pintinhos para assentados pelo programa de reforma agrária, pelo fato deles serem criados em sistema aberto. "O próprio governo promove ações que vão contra a prevenção à doença em caso de disseminação", diz Koga. O Ministério da Agricultura publicou no início desta semana no Diário Oficial um plano para prevenção e combate à influenza aviária, que ficará sob consulta pública para mudanças durante um mês, de acordo com Marcelo Mota, coordenador de Sanidade Avícola da Pasta. Uma das medidas criticadas pelos produtores é a obrigatoriedade de proteger as granjas com telas para evitar o contato com outras aves. De acordo com levantamento feito pelo Sindicato Rural de Bastos, o custo para colocar telas nas granjas gira entre R$ 4 e R$ 5 por ave. Isso significa que, para isolar todas as granjas comerciais do país com telas será necessário um investimento privado entre R$ 400 milhões e R$ 500 milhões. Somente em Bastos, o aporte pode chegar a R$ 75 milhões. "O custo para telar os aviários é astronômico e não evita o contágio com o vírus da doença", avalia Yasuhiko Yamanaka, diretor administrativo do Sindicato Rural do município. Yamanaka observa que a cidade amargou perdas em 2003 devido a um surto de laringotraqueíte infecciosa. O surgimento da doença obrigou os produtores locais a fazer o abate sanitário nas granjas atingidas, totalizando uma redução de 20% no plantel total. Só no ano passado Bastos recuperou o plantel que tinha em 2003, de 15 milhões de aves. Lauro Morishita, proprietário da granja Incorbal, diz que suas granjas foram afetadas pela doença e sofreu perdas consideráveis. "Se a gripe aviária, que é muito mais perigosa, chegar aqui, a atividade vai acabar em Bastos. Espero que a doença não chegue", torce Morishita. O Valor visitou diversas granjas da cidade e constatou que a maioria já investiu na implantação de sistemas de desinfecção de caminhões e implantou medidas de biossegurança, como quarentena, restrição de visitas e proibição da criação de aves por funcionários em suas casas. No entanto, ainda existe um grande número de granjas que sequer faz a manutenção das cercas que envolvem as gaiolas. As pombas, por exemplo, têm livre acesso para 'visitar' as galinhas dentro das granjas. "Ainda não foi identificado no país uma ave silvestre que tenha o vírus H5 ou o H7; por isso hoje essas aves ainda não oferecem risco", afirma Mota, do Ministério.(CB)