Título: Granjas ajustam foco para manter eficiência
Autor: Cibelle Bouças
Fonte: Valor Econômico, 23/02/2006, Agronegócios, p. B14

Diante dos preços em queda, excesso de oferta e demanda estagnada, as granjas de postura do país buscam alternativas para baixar custos e driblar a crise que afeta a cadeia produtiva de ovos no país. Investimentos na verticalização do sistema produtivo, descarte de matrizes e redução do alojamento de pintos são algumas das estratégias usadas pelas empresas para manter sua competitividade. Em Bastos, sete granjas de médio porte - Amano, Ikeda, Koga, Murakami, Maki, Nakanishi e Tsuru - construíram em conjunto uma fábrica de ração animal, inaugurada este mês para atender à demanda das sócias, que consomem juntas 80 toneladas de ração por dia. Carlos Ikeda, um dos sócios do empreendimento, afirma que a unidade deu a largada com produção de 40 toneladas diárias. "Também pensamos em industrializar e exportar os ovos, mas decidimos começar reduzindo o custo de produção para depois avançar no mercado externo". Assim como os sete granjeiros, outros empresários do ramo buscam corrigir a rota de trabalho neste ano para contornar a crise. Segundo a Jox Assessoria Agropecuária, só na semana passada o preço médio da caixa de 30 dúzias vendida em São Paulo caiu 6,5%, para R$ 29 na sexta-feira. Na média de fevereiro comparada à média do mesmo mês de 2005, a queda chega a 23%. "Geralmente o consumo de ovos cai na segunda quinzena do mês e o mercado está respondendo a esse comportamento", afirma Oto Xavier, analista da Jox. Ele diz que a tendência é que o mercado se mantenha nesse nível até a quaresma, quando o setor de ovos ganha impulso devido às tradições cristãs de substituir o consumo de carnes. A concorrência com as carnes também é apontada pelos granjeiros como fator de pressão sobre as cotações dos ovos. "O ressurgimento da febre aftosa no ano passado derrubou os preços de todas as carnes e, em conseqüência, estrangulou as cotações dos ovos", afirma Ikeda. Gilberto Gomes, sócio da corretora Gil Ovos, comercializa em média 15 caminhões de ovos por semana (ou 10 mil caixas de 30 dúzias) e diz que vivenciou outras crises de preços no setor de ovos, mas a atual está se mostrando mais profunda que as anteriores. "Nunca vi o mercado tão parado. Está difícil fechar bons negócios", diz. A União Brasileira da Avicultura (UBA) e a Associação Paulista de Avicultura (APA) estimam que este ano o plantel de aves de postura ainda será pelo menos 5% maior que em 2005, o que tende a segurar as cotações ao longo do ano. A expectativa é que o plantel de aves no Brasil alcance 102 milhões de aves e a produção de ovos atinja 5,4 milhões de caixas de 30 dúzias, ante 5,17 milhões no ano passado. "Há uma tendência de as granjas descartarem matrizes e reduzirem o alojamento de pintos para que a oferta se equilibre, mas ainda não é possível garantir que isso ocorrerá", observa José Carlos Teixeira da Silva, consultor da Associação Paulista de Avicultura (APA). Francisco Mitsuo Oura, encarregado de compras da Cooperativa Avícola de Bastos (CAB), nota que muitas granjas em Bastos já estão buscando reduzir a produção de ovos a partir do descarte precoce das matrizes (em 70 semanas de vida, em vez de 80) e da "muda forçada", que consiste em deixar a galinha sem comer por até 15 dias para que ela fique até um mês sem produzir ovos. "Os produtores estão ajustando a sua produção ao que o mercado precisa. A crise é ruim, mas é necessária, porque ajuda a regular a oferta", diz Oura. (CB)