Título: Brasil colabora para sustentar preço da soja
Autor: Cibelle Bouças e Alda do Amaral Rocha
Fonte: Valor Econômico, 13/03/2006, Agronegócios, p. B13

Grãos Tendência deve ter vida curta; relatório de sexta-feira do USDA minimiza efeitos causados pela gripe aviária

A presença ainda tímida da soja brasileira no exterior está ajudando a sustentar os preços do grão na bolsa de Chicago. Conforme a Agência Rural, 20% da safra brasileira foi vendida até semana passada, quando a média histórica para o período é 29%. No Mato Grosso, as vendas mantêm praticamente o mesmo ritmo do ano passado, de 40%. No Rio Grande do Sul, 10% da safra foi negociada, contra média histórica para o período de 30%. "Os produtores estão segurando a soja no campo à espera de uma grande melhora no dólar que pode não acontecer", diz Fernando Muraro, da Agência Rural. Antonio Sartori, da Brasoja, considera "perigosa" a decisão dos produtores de represar a venda de soja, à espera de mudança no câmbio. "Os preços em Chicago já estão dentro da média histórica, e a safra brasileira será recorde. O cenário futuro é baixista". Na sexta-feira, o bushel do grão para entrega em maio subiram 1,50 centavos de dólar na bolsa americana, para US$ 5,8925. Também na sexta, o preço nominal para a saca no Rio Grande do Sul foi de R$ 22,50. Sartori considera impossível que a safra sul-americana atinja as 99 milhões de toneladas previstas pelo Departamento de Agricultura dos EUA (USDA) em relatório divulgado na sexta. Ele prevê colheita próxima a 95,5 milhões, sendo 54 milhões de toneladas no Brasil - ainda um recorde. Flávia Moura, da Fimat Futures, afirma que as perspectivas de aumento dos estoques americanos e mundiais de soja deverão exercer pressão nos próximos meses. O relatório de oferta e demanda de grãos do USDA elevou as projeções de produção e estoques globais, reforçando a pressão sobre a soja na bolsa de Chicago. Os números apontam produção mundial de 224,12 milhões de toneladas - com a revisão da projeção para a produção chinesa em 1,3 milhão de toneladas, para 18,3 milhões. O USDA elevou os estoques globais em 500 mil toneladas, para 54,42 milhões, com alta nos estoques nos EUA e China. O órgão manteve praticamente estáveis as projeções para produção e estoques globais de farelo de soja. Para os analistas, isso significa que o USDA ainda não incluiu o efeito da gripe aviária sobre a demanda de farelo em sua estimativa de março. Flávia, da Fimat, diz que indústrias nos EUA começaram a reduzir o esmagamento à espera de um quadro mais nítido sobre a demanda mundial de farelo. A Associação Nacional de Processadores de Óleos Vegetais (Nopa, sigla em inglês) estima queda de 10,5% no esmagamento de soja nos EUA em fevereiro ante igual mês de 2005, totalizando 3,5 milhões de toneladas. O volume é 100 mil toneladas menor que o de janeiro, segundo a Dow Jones Newswires. Para Leonardo Sologuren, da Céleres, a redução na estimativa de consumo mundial de milho pelo USDA já está relacionada ao avanço da gripe aviária, já que a enfermidade deve reduzir plantéis em países produtores. Em fevereiro, o USDA estimava um consumo global de 465,85 milhões de toneladas e agora prevê 463,5 milhões. Conforme Sologuren, o USDA espera menor demanda por milho em países afetados pela doença, como China e Egito. Conforme o órgão, a gripe aviária também deve afetar as exportações americanas de frango, estimadas agora em 2,404 milhões de toneladas. A previsão de fevereiro era 2,452 milhões de toneladas. Ainda em relação ao milho, o USDA manteve a estimativa de produção nos Estados Unidos em 228,23 milhões de toneladas e também na Argentina e no Brasil, em 5,6 milhões de toneladas e 40 milhões de toneladas, respectivamente. Apesar da previsão de menor demanda mundial pelo grão, o USDA elevou as exportações americanas de milho de 46,99 milhões de toneladas em fevereiro para 48,26 milhões de toneladas em março. A elevação pode ser explicada, diz Sologuren, porque a China deve exportar menos. A estimativa de fevereiro era 6 milhões de toneladas e caiu para 5 milhões.