Título: Juro real para 1 ano encosta em 10%
Autor: Luiz Sérgio Guimarães
Fonte: Valor Econômico, 13/03/2006, Finanças, p. C2

O Copom do Banco Central não tem muito tempo a perder se quiser transformar em realidade a previsão oficial, encampada com entusiasmo pelo presidente Lula e pelo ministro da Fazenda Antonio Palocci, de uma expansão do PIB este ano de 4%. O ritmo moderado de redução da Selic não parece estar provocando efeitos notáveis sobre a atividade econômica. E o BC já está atrasado. As condições para o crescimento de quase 5% obtido em 2004 começaram a ser plantadas já em novembro do ano anterior, mês em que, após o choque de juros aplicado no começo do governo Lula, o juro real projetado para 12 meses desceu pela primeira vez à casa de um dígito. Isso ocorreu no dia 21 de novembro de 2003: descontada a projeção de IPCA para 12 meses do Focus, de 5,89%, o swap de 360 dias pagou 16,40%, oferecendo ganho real de 9,93%. Foram meses de declínio consistente após o recorde de alta de 17,57% reais (swap de 30% e IPCA de 10,58%) marcado no dia 14 de fevereiro de 2003. Juro real de um dígito parece ter o poder de estimular o investimento produtivo. Na sexta-feira, ele fechou levemente acima de 10%. O swap de 360 dias, após quatro dias estável em 15,10%, cedeu a 14,95%, mesmo assim, para uma expectativa de IPCA de 4,42%, ainda incorpora juro real de 10,08%. Mas trata-se de bom avanço já que a projeção de juro real começou o ano em 11,36%. E não falta muito para que mude de patamar e passe a situar-se na casa de 9%. Basta, para tanto, que o swap de um ano caia, mantida a perspectiva de inflação, a 14,85%. Os juros projetados pelo mercado futuro da BM&F caíram com estrondo na sexta-feira. Já em declínio por causa da produção industrial decepcionante de fevereiro e da sinalização do Copom de que o ciclo de afrouxamento monetário poderá ser acelerado em abril, os contratos futuros sofreram pressão de baixa do índice oficial de inflação. Com evolução de 0,41% no mês passado, o IPCA de fevereiro acusou forte desaceleração já que vinha de avanço de 0,59% em janeiro. E ficou aquém da mediana das expectativas, de 0,45%. O contrato para a virada do ano tombou de 15,20% para 15,10%. Apesar disso, a maior parte dos grandes bancos ainda não está convencida de que o BC poderá intensificar o desaperto, reduzindo a Selic em 1 ponto no encontro do dia 19 de abril. O Credit Suisse, por exemplo, reconhece que aumentou a probabilidade de corte de 1 ponto na próxima reunião, mesmo assim mantém a expectativa de duas reduções de 0,75 ponto nos encontros de abril e maio. Depois, a previsão é de diminuição do compasso de queda para 0,50 ponto em julho e nova moderação para 0,25 ponto em agosto e outubro, com o Copom interrompendo o ciclo de queda com a Selic a 14%. A ata da reunião realizada na semana passada será publicada na quinta-feira, e poderá quebrar as resistências.

Swap de 360 dias cai a 14,95% na BM&F

Fluxo mostra efeitos da turbulência

O Banco Central divulga na quarta-feira o fluxo cambial relativo à primeira quinzena de março. O dado está sendo aguardado com ansiedade pois mostrará os efeitos da turbulência externa sobre a movimentação de capitais estrangeiros para aplicações financeiras locais. No mês passado, o fluxo cambial totalizou entradas líquidas de US$ 7,8 bilhões. Embora, como sempre, a balança comercial tenha sido o principal canal de entrada de divisas, com saldo positivo de US$ 4,9 bilhões, surpreendeu o forte fluxo financeiro. O superávit na conta financeira foi de US$ 2,8 bilhões, já refletindo, em parte, a decisão do governo de isentar os ganhos obtidos pelo capital estrangeiro com a compra e venda de títulos públicos. Como as instituições absorveram a maior parte do fluxo cambial positivo, as posições passaram de "vendidas" em US$ 4,7 bilhões ao final de janeiro para "compradas" em US$ 200 milhões em fevereiro. O que o mercado quer saber é se o tremor externo reduziu o aporte de investimentos financeiros externos e se, nesse caso, afetou as posições dos bancos. O sobe-e-desce descrito pela cotação do dólar na semana passada demonstra a disposição de saída dos estrangeiros e eventual ampliação das posições compradas dos bancos. Dependendo dos números, a tendência do dólar, que voltou a ser de baixa depois que o BC interrompeu, na quarta-feira, a venda de contratos de swaps reversos, pode sofrer novas mudanças. Na sexta-feira, o dólar fechou cotado a R$ 2,1390, em queda de 1,01% apesar de o BC ter feito leilão um pouco mais animado de compra direta (aceitou 12 propostas), mas no acumulado da semana a moeda ainda exibiu valorização de 1,23%. Sem novas surpresas, o dólar irá testar esta semana o piso de R$ 2,10.