Título: Indústria zera estoque e vende mais no bimestre
Autor: Chico Santos e Raquel Salgado
Fonte: Valor Econômico, 24/02/2006, Brasil, p. A6
Conjuntura Produção de bens finais e de intermediários sobe A economia brasileira começou 2006 com o pé no acelerador e com espaço para ganhar mais velocidade após a meia trava para as festas do Carnaval. Empresas e representações setoriais de áreas como siderurgia, petroquímica, gases industriais, comércio, construção civil, distribuição de combustíveis e da indústria em geral ouvidos pelo Valor indicaram que os dois primeiros meses do ano mostraram melhoria em relação ao fim do ano passado, especialmente porque o fenômeno dos estoques elevados que derrubou o Produto Interno Bruto (PIB) no terceiro trimestre de 2005 parece superado. "Janeiro foi melhor do que dezembro e fevereiro está sendo melhor do que janeiro", disse Armando Guedes Coelho, diretor-superintendente da Suzano Petroquímica, falando do setor. Indicadores antecedentes do nível de atividade da economia já sinalizam o aquecimento. A expedição de papelão ondulado cresceu 0,9% entre dezembro e janeiro, de acordo com dados que já descontam os efeitos sazonais. A produção de veículos automotores avançou 5,7%, após uma alta de 4,61% entre novembro e dezembro. O fluxo de veículos pesados nas rodovias brasileiras ficou 1,1% maior no primeiro mês do ano. Por tudo isso, a consultoria Tendências espera que a indústria cresça 0,2% em janeiro, o que não é desprezível após o dezembro forte. Nem a ligeira redução, de 0,5% na produção de aço bruto, acompanhada de uma queda de 5,3% nas vendas internas em janeiro tiraram o otimismo do setor siderúrgico. Rudolf Bülher, vice-presidente em exercício do Instituto Brasileiro de Siderurgia (IBS) prefere destacar o crescimento de 7,4% na produção de aços planos, de 7,3% na de longos e o aumento de 136,1% das vendas externas, sempre em relação a janeiro do ano passado. "Houve um crescimento de 7% na produção de laminados, o que está em linha com o que a gente espera", disse. De acordo com Bülher, os estoques estão normais. "Os estoques de consumidores e dos distribuidores estão dentro dos limites usuais, tanto em longos como em planos", afirmou. As perspectivas de maior aceleração das vendas nos próximos meses estão na continuidade do avanço no setor automobilístico, no sucesso das recentes medidas de estímulo à construção civil e em alguns projetos ainda pendentes, como o programa de construção de navios da Transpetro (Petrobras). A leitura otimista de Bülher é corroborada pelos dados da maior distribuidora de aços planos do país, a Rio Negro. Segundo Carlos Loureiro, presidente da empresa, o consumo aparente (medido pelas vendas do setor de distribuição) cresceu 0,5% sobre janeiro do ano passado e "fevereiro está correndo bem, apesar do Carnaval". Além do fim dos superestoques em clientes estratégicos, como o setor automobilístico, Loureiro está enxergando até uma retomada em máquinas agrícolas. Após um dezembro classificado como "desastroso", o setor petroquímico está vivendo dias bem melhores em janeiro e fevereiro segundo a avaliação de Coelho, da Suzano. Ele disse que, diferente do início de 2005 os clientes (setor de materiais plásticos) começaram 2006 com estoques baixos. "Todos tinham uma expectativa de queda de preços com a entrada em operação da Riopol (a Rio Polímeros, central petroquímicas a gás inaugurada em junho passado)", diz. Como a partida da Riopol foi mais demorada do que se esperava, Coelho disse que o mercado se ajustou e foi às compras, temendo ficar desabastecido. A distribuição de combustíveis também começou bem o ano. Segundo dados do Sindicato Nacional das Distribuidoras de Combustíveis e Lubrificantes (Sindicom), o consumo aparente cresceu 3,5% em janeiro, na comparação com janeiro do ano passado, sendo que o diesel e a gasolina cresceram, respectivamente, 3,8% e 2,1%. O segmento de gases industriais, um termômetro do nível de atividade no restante da indústria, confirma que o ano começou melhor. A White Martins, do grupo americano Praxair, responsável por mais de 60% do mercado brasileiro, embora sem números fechados, avalia que janeiro foi melhor do que dezembro e fevereiro continua no mesmo ritmo. Segundo Domingos Bulus, presidente da empresa, as vendas de gases industriais foram alavancadas, especialmente, pelas indústrias metalmecânica e de alimentos e bebidas. Na construção civil, o presidente do Sindicato da Indústria da Construção do Rio de Janeiro (Sinduscon-RJ), Roberto Kauffmann, disse que "o ano começou bem porque os bancos aplicaram 60% a mais do que em janeiro de 2005 em financiamento habitacional". No varejo, a Hermes, uma das maiores empresas de vendas por catálogo, viu suas vendas para as classes C e D subirem 10% no primeiro bimestre do ano sobre mesmo período de 2005. E a aposta de Gustavo Bach, diretor de marketing da empresa, é de intensificação dessa alta após o carnaval. No segmento voltado às classes A e B, focado em produtos eletroeletrônicos, o aumento de vendas chegou a expressivos 82%. "E a Copa do Mundo ainda vai impulsionar muito esse segmento", estima. Há, no entanto, quem esteja preocupado, como a indústria de máquinas e equipamentos. Newton de Mello, presidente da Abimaq, que representa o setor, estima que as encomendas recuaram cerca de 20% nesse começo de ano em função do câmbio. Segundo Melo, não são só calçados e vestuário retraíram investimentos. "Até as autopeças estão mais cautelosas por conta da concorrência dos importados", relata.