Título: Pela primeira vez em 12 anos, PSDB fica sem candidato natural
Autor: César Felício, Cristiane Agostine e Caio Junqueira
Fonte: Valor Econômico, 24/02/2006, Especial, p. A18

Apreensivos, os quatro pré-candidatos tucanos ao governo paulista aguardam a definição da candidatura presidencial da legenda para começarem a campanha eleitoral de fato. A oito meses da eleição, o partido se encontra em uma espécie de vácuo. "Pela primeira vez, não existe um candidato com força eleitoral que o distinga dos demais. Também não há a figura do grande eleitor, já que tanto Serra quanto Alckmin exercem este papel", analisou um dos postulantes, o secretário municipal do Governo paulistano, Aloysio Nunes Ferreira Filho. Somente em abril o partido escolherá o candidato. "O que destrava o pino da nossa granada é a indicação do candidato a presidente", afirmou o vereador José Aníbal, apontado internamente como o favorito em um cenário fictício: se a escolha fosse decidida em prévias e sem a interferência dos dois presidenciáveis. O mais provável roteiro do PSDB é outro: o preterido na disputa presidencial aponta o seu predileto, com a concordância do candidato do partido em nível nacional. Dos quatro postulantes, Aníbal é o aliado de Alckmin, Aloysio concorre com vantagem à condição de preferido de José Serra com o deputado Alberto Goldman e o ex-ministro da Educação Paulo Renato de Souza se equilibra entre as duas correntes. Paulo Renato busca se credenciar como opção caso a briga interna no partido se aprofunde. O ex-ministro pensa que, neste caso, Fernando Henrique terá o papel protagonista na unção do candidato tucano ao governo estadual. "Quero ser a segunda opção do Serra e do Alckmin e a primeira opção do Fernando Henrique", disse. A única garantia que os postulantes receberam é que não haverá soluções de última hora. Sob reserva, alguns pré-candidatos afirmam que Alckmin garantiu que não imporá o secretário da Habitação, Emanoel Fernandes, ou o da Educação, Gabriel Chalita, nem que acabe optando por permanecer à frente do governo até o final do mandato. José Serra, por sua vez, teria afastado a hipótese de concorrer ao governo estadual. Ou será candidato a presidente, ou ficará no cargo. A dependência dos postulantes dos cardeais do partido é tão grande que o PSDB estadual, ao contrário do que fez o PT com os seus pré-candidatos, por exemplo, não abriu seu espaço de horário gratuito no rádio e na televisão para que Paulo Renato, Aníbal, Aloysio e Goldman aparecessem. Em maio, haverá uma nova rodada de programas, de importância crucial para alavancar o candidato tucano nas pesquisas. "Se não escolhermos até maio o candidato, perderemos a eleição", disse Paulo Renato. A articulação interna de cada um, contudo, será levada em conta. O partido programou a realização de 36 reuniões em todo Estado, e já realizou dezessete. Na semana passada, por exemplo, foi a vez de Itapevi, um município da região metropolitana da capital. Cada candidato teve reservado um dia da semana para debater com as lideranças locais. "O PSDB gosta de ser ouvido e nossas lideranças sabem disto", comentou Aníbal. Os quatro tucanos já têm um discurso de campanha pronto e coincidente, com grande ênfase na educação e nas três regiões metropolitanas do Estado, onde a disputa eleitoral com o PT é mais intensa. A questão educacional é apontada como de maior destaque do que temas como saúde e segurança. "A educação é um foco tão evidente que o partido não precisa de uma pesquisa para perceber isso. Demos um salto quantitativo e agora precisamos de um avanço qualitativo", disse Goldman. Ex-ministro da área, Paulo Renato chega a formular propostas específicas. "Pretendo implantar o turno integral, que hoje só está presente em cerca de 500 das 6 mil unidades existentes no Estado. O regime de avaliação da progressão continuada deve ser mantido, com maior acompanhamento do rendimento escolar", afirmou. A progressão continuada é o regime que substituiu a reprovação ou aprovação anual dos alunos no ensino fundamental por uma reprovação ou aprovação por ciclo de quatro anos. Do outro lado do front, os dois pré-candidatos petistas e os possíveis candidatos do PMDB, Orestes Quércia e PFL, Guilherme Afif Domingos, divergem pouco quando palpitam sobre o que acontecerá no PSDB. Com exceção de um, todos apontam José Aníbal como o postulante mais forte, seguido por Aloysio e Paulo Renato. Os adversários do PSDB atribuem a divisão ao desgaste de doze anos de administração tucana que acarretou uma dificuldade de reciclagem: ninguém se firma como sucessor da geração formada por Fernando Henrique, o falecido governador Mário Covas, José Serra e Geraldo Alckmin. (CF, CA e CJ)