Título: Pesquisas internas do PT colocam Marta à frente de Mercadante
Autor: César Felício, Cristiane Agostine e Caio Junqueira
Fonte: Valor Econômico, 24/02/2006, Especial, p. A18

A crise política vivida pelo governo Lula no ano passado fez com que a ex-prefeita paulistana Marta Suplicy ganhasse terreno contra o líder do governo no Senado, Aloizio Mercadante (SP), na disputa interna do PT, que realizará prévias com cerca de 190 mil filiados em maio para definir o candidato. A alta temperatura em Brasília reteve Mercadante na capital durante os dias úteis, enquanto Marta fazia campanha em tempo integral. O resultado apareceu nas pesquisas internas de intenção de voto encomendadas pelo PT. A que foi concluída no começo de fevereiro mostrou Marta derrotando seu possível adversário Orestes Quércia no segundo turno e Mercadante sendo derrotado por ele, segundo afirmou um parlamentar petista relativamente distante dos dois grupos. Além das dificuldades de fazer campanha, Mercadante também se distanciou do ex-ministro da Casa Civil José Dirceu, que teve o mandato parlamentar cassado em dezembro. Ao contrário da adversária, Mercadante procurou demarcar distância em relação aos petistas acusados de desvio. Com o presidente Lula e o presidente nacional da sigla, Ricardo Berzoini, declarando-se neutros, o grande trunfo de Mercadante é o apoio da grande maioria dos prefeitos petistas do Estado, capitaneados pelo de Guarulhos, Elói Pietá e dos ministros da Educação, Fernando Haddad, e acima de tudo o do Trabalho, Luiz Marinho, que pode fazer com que a ala sindical do partido e da região do ABC se mova a favor do senador. O terceiro ministro do PT paulista, Antonio Palocci, da Fazenda, não apóia Mercadante. Também não se manifestou a favor de Marta. Eventual presidenciável em 2010, caso Lula se reeleja presidente, Palocci teria tanto em Mercadante quanto em Marta rivais, caso o PT ganhe a eleição estadual. A repetição na prévia de maio de um quórum parecido com o que teve a eleição em 2005 para a presidência petista é outra aposta do senador. No ano passado, a capital de São Paulo, onde Marta domina, tinha 77 mil filiados habilitados a votar, ou 41% dos 186,7 mil petistas aptos no Estado. Mas compareceram 21,6 mil, ante 49,8 mil do interior. O peso da capital em relação ao Estado caiu para 30%. Mercadante aposta em sua identificação maior com o presidente, por ser líder de seu governo, para dobrar Marta na disputa interna. "O PT está totalmente mobilizado para a reeleição e tenderá a escolher em São Paulo o melhor candidato para nacionalizar o debate. A Marta faz o debate local", disse o senador. A ex-prefeita tem rebatido esta visão argumentando que o prefeito paulistano, José Serra, é o mais provável candidato tucano à Presidência. Na campanha eleitoral de 2004, Marta acusou Serra de pretender usar a prefeitura de São Paulo como trampolim eleitoral, renunciando ao cargo para concorrer posteriormente à Presidência. Se o prefeito disputar a sucessão nacional, Marta pretende acusá-lo de ter quebrado a promessa. As estratégias dos petistas para estruturar um programa para São Paulo são diferentes. Mercadante pretende argumentar que falta ao Estado planejamento para induzir ao crescimento econômico e que os resultados na área da segurança pública obtidos por Alckmin são insuficientes. Marta, à semelhança dos pré-candidatos tucanos, dá ênfase à educação. Do lado adversário, a maioria dos pré-candidatos dizem preferir enfrentar Mercadante, por apostarem que a imagem de Lula no Estado está definitivamente comprometida. Arriscam, entretanto, a apostar na vitória de Marta nas prévias. Dentro do PSDB, a intenção é associar o governo municipal de Marta Suplicy na capital à uma administração ruinosa do ponto de vista financeiro e repleta de suspeitas de corrupção. A ex-prefeita relativiza a importância que tal ataque poderá ter. Disse a aliados que levar a discussão para o campo ético poderá ser mais arriscado para o PSDB do que para o PT e comentou que, para a visão do eleitor comum, qualquer administrador que se destaque por realizações enfrenta processos. (CF, CA e CJ)