Título: De olho nos favoritos, PFL e PMDB usam campanha para negociar
Autor: César Felício, Cristiane Agostine e Caio Junqueira
Fonte: Valor Econômico, 24/02/2006, Especial, p. A18
Ainda sem a definição do Tribunal Superior Eleitoral sobre o fim da verticalização, PFL e PMDB usam a candidatura própria como instrumento de barganha na disputa pelo governo paulista. Caso o governador Geraldo Alckmin e o prefeito José Serra se desincompatibilizem, os pefelistas assumem os dois governos e a candidatura do presidente da Associação Comercial, Guilherme Afif Domingos, torna-se provável. Os pemedebistas flertam com tucanos e petistas, oferecendo apoio em troca de o presidente estadual da legenda, Orestes Quércia, concorrer ao Senado. O ex-governador apareceu como líder na pesquisa de intenção de voto feita pelo Datafolha em dezembro, o que aumentou seu poder de negociação. Representando o PFL, Afif Domingos diz que poderá ser interessante para o candidato da aliança nacional PSDB/PFL ter dois palanques em São Paulo, um de corte mais conservador e outro social-democrata. O empresário está afastado das disputas eleitorais desde que perdeu a eleição para o Senado em 1990, mas costuma atribuir os 5% que têm obtido em pesquisas de intenção de voto à lembrança da sua candidatura presidencial pelo PL em 1989. Quércia admite concorrer ao governo estadual em uma situação muito específica: a de que o governador gaúcho Germano Rigotto ficará com a candidatura presidencial do PMDB. Seu projeto prioritário é voltar ao Legislativo. O ex-governador de São Paulo não se iludiu com a liderança que obteve na pesquisa eleitoral. Admitiu a aliados que o resultado, em parte, deve-se à sua presença na televisão no horário eleitoral do partido, no final do ano passado, e à exclusão do ex-governador Paulo Maluf do quadro de candidatos. No meio quercista, não se atribui o resultado à recordação do período em que foi governador de São Paulo, entre 1987 e 1991, já que obteve um índice de voto alto no eleitorado mais jovem. Antes da pesquisa, Quércia estava determinado a candidatar-se a deputado federal, já que não via espaço para ser disputar o Senado ao lado de um petista ou de um tucano candidato a governador. A pesquisa mudou sua perspectiva: irá manter seu nome no cenário para observar se PSDB ou PT abrem negociações consistentes. Sem que isso ocorra, não descarta ficar ausente do pleito. A interlocutores, o ex-governador disse que a candidatura a deputado federal deixou de fazer sentido, dada à sua posição nas pesquisas. Para ceder espaço a Quércia, o PT teria de tirar da disputa o senador Eduardo Suplicy, possibilidade descartada pelo senador e de difícil aprovação dentro do partido, ainda que seja do agrado de alguns aliados de pré-candidatos petistas ao governo. Entre os tucanos, não há nome forte para disputar o Senado, mas a aliança também é vista como muito improvável. A candidatura própria do PFL é temida pelos tucanos e pode ser um fator decisivo para Alckmin não concorrer ao Senado e ficar à frente do governo estadual, caso não seja candidato a presidente. Os pré-candidatos tucanos consideram altamente provável o lançamento de Afif se o vice-governador Claudio Lembo e o vice-prefeito Gilberto Kassab assumirem a condição de titulares. O empresário não se movimenta como candidato e aguarda o resultado da negociação nacional. Pretende ser o último a definir a sua posição no cenário sucessório paulista. Se nem Afif e nem Quércia forem candidatos, podem ganhar corpo as candidaturas do ex-governador Paulo Maluf, pelo PP, e do vereador paulistano Carlos Apolinário, do PDT, disputando o eleitor conservador. Egresso da carceragem da Polícia Federal há quatro meses, onde ficou preso por 40 dias, Maluf está politicamente fragilizado e tem a candidatura contestada dentro do próprio partido. Apolinário já foi candidato a governador em 2002, pelo PGT e teve 3,6% dos votos, ficando em quarto lugar. pretende reunir em torno de sua candidatura votos de evangélicos. Na última pesquisa, contava com 6% das intenções de voto. (CF, CA e CJ)