Título: Sucessão presidencial atrela disputa paulista
Autor: César Felício, Cristiane Agostine e Caio Junqueira
Fonte: Valor Econômico, 24/02/2006, Especial, p. A18
Eleições São Paulo poderá ser o único Estado do país fortemente polarizado entre petistas e tucanos
São Paulo poderá ser o único Estado do Brasil em que a polarização entre PT e PSDB, presente no cenário nacional, se reproduza na sucessão local. O motivo é o fato de os paulistas dos dois partidos dominarem suas siglas e imporem candidatos paulistas à Presidência. Os tucanos estão paralisados pela disputa entre o prefeito paulistano José Serra e o governador Geraldo Alckmin, pelo menos até abril. Os dois pré-candidatos petistas, o líder do governo no Senado, Aloizio Mercadante (SP) e a ex-prefeita paulistana Marta Suplicy já trabalham com a estratégia da polarização com o PSDB. "O centro da disputa paulista é a reeleição ou não do Lula. O que vai ocorrer no Estado é o debate nacional", sintetiza Mercadante. Os quatro pré-candidatos tucanos (o vereador paulistano José Aníbal, o ex-ministro da Educação Paulo Renato Souza, o secretário municipal de Governo Aloysio Nunes Ferreira Filho e o deputado Alberto Goldman) são mais relutantes. Admitem que a polarização tende a ocorrer, mas observam que a eleição em São Paulo nunca foi bipolar. "Não dá para bater o martelo nisso, não. Nós temos o desafio de crescer e o PT se fragilizou muito", disse Goldman. Mas como os tucanos dependerão muito da transferência de votos do candidato a presidente, tendem a colar suas campanhas na eleição presidencial. "Quando se coloca nas pesquisas o nosso nome ligado ao do prefeito José Serra ou do governador Geraldo Alckmin para a Presidência, saltamos para o mesmo patamar do PT", disse Paulo Renato. Na primeira pesquisa de intenção de voto divulgada em dezembro a liderança ficou com o ex-governador Orestes Quércia (PMDB). O presidente da Associação Comercial de São Paulo, Guilherme Afif Domingos (PFL), apareceu tecnicamente empatado com os candidatos tucanos, atrás dos petistas. São duas candidaturas que tendem a não ocorrer. Quércia recebeu com prudência o resultado da pesquisa. Já disse a vários interlocutores que tenciona candidatar-se à Câmara Federal. A candidatura de Afif também depende da negociação nacional de alianças entre PSDB e PFL. De olho em um suposto vácuo da direita, o ex-governador Paulo Maluf (PP) e o vereador paulistano Carlos Apolinário (PDT) ocuparam os programas na televisão de seus partidos para apresentarem-se candidatos. No resto do país, PT e PSDB têm alguma chance de serem protagonistas da disputa apenas em Minas Gerais e no Pará. No primeiro caso, entretanto, há uma hipótese concreta do PT apoiar o PMDB, caso o candidato do partido seja o ministro das Comunicações, Hélio Costa. Já no Pará, a polarização tende a ficar entre PMDB e PSDB, caso o deputado e ex-governador Jader Barbalho decida enfrentar os tucanos.