Título: SABMiller sonda mercado, de olho na Schincariol
Autor: Daniela D'Ambrosio e Chris Martinez
Fonte: Valor Econômico, 24/02/2006, Empresas &, p. B1

A sul africana SABMiller, terceira maior cervejaria do mundo em volume, atrás da InBev e da Anheuser-Busch, está disposta a desembarcar no país. Depois de perder a Kaiser para a canadense Molson em 1998, a SAB volta a prospectar o mercado brasileiro. Desta vez, o alvo é a Schincariol, segunda no ranking, com 12,2% de participação. Mais do que comprar um ativo com marca e distribuição já consolidados como a Schincariol, a SABMiller, dona de um faturamento de US$ 14,5 bilhões, quer marcar posição na disputa pelo mercado cervejeiro da América do Sul. Até o ano passado, antes da compra bilionária da Bavária colombiana, a multinacional não operava na região. Desde então, passou a dominar os mercados da Colômbia, Peru e marcar uma forte posição no Panamá. No Brasil, a empresa atua desde 1995 pelas mãos da AmBev (então Brahma), que produz e distribui um dos seus maiores sucessos de venda, a Miller Genuine Draft - cerveja premium que compete com Bohemia, Stella Artois e Brahma Extra. O acordo, porém, não é um empecilho e pode ser desfeito a qualquer momento, apurou o Valor. No momento, o maior entrave na compra da Schincariol passa longe disso. O que pesa é a acusação de sonegação fiscal. Em julho de 2005, os controladores e principais executivos da Schincariol foram presos numa operação conjunta da Polícia e da Receita Federal. O rombo seria de R$ 1 bilhão, mas até hoje nada foi provado. " Faria todo sentido para a SAB adquirir a Schincariol, mas a operação tem que passar pelo perdão ou negociação da dívida com o governo federal " , afirma Alexandre Falcão, analista do Itaú. Seguindo esse raciocínio, o governo seria uma peça-chave no processo de negociação. Segundo fontes ouvidas pelo Valor, a companhia sul africana já teria, até mesmo, interlocutores junto ao governo. Embora negue que esteja à venda, a Schincariol contratou no ano passado a consultoria McKinsey para reestruturar seu negócio. Um forte indício da busca de um sócio se deu no ano passado, quando executivos da Schincariol visitaram cervejarias internacionais. Fizeram uma espécie de " road show " para apresentar a empresa a potenciais compradores. Oficialmente, a empresa diz que a visita limitou-se à Alemanha, para troca de tecnologia. O Valor apurou, porém, que a Schincariol reuniu-se com a MolsonCoors (ex-dona da Kaiser) e a SABMiller. Nigel Fairbrass, diretor geral de relação com os meios de comunicação da SABMiller, disse que a empresa não comenta rumores. Mas o principal executivo da SABMiller, Graham Mackay, deixou pública a intenção de aumentar os negócios na América do Sul. " Temos um time de fusões e aquisições que se dedica integralmente a avaliar potenciais alvos " , declarou no ano passado, durante o anúncio de compra da Bavária, em uma operação de US$ 7,8 bilhões - que incluiu dinheiro, troca de ações e dívidas. O Brasil é o quinto maior produtor, em volume, atrás da China, Estados Unidos, Alemanha e Rússia. Em consumo, ocupa a nona posição e, por isso, tornou-se ainda mais estratégico na briga das gigantes pela liderança global. O principal objetivo das grandes cervejarias é marcar posição em mercados emergentes - já que as táticas para ampliar o negócio em praças já consolidadas estão praticamente esgotadas. Mais longe da maturidade, Brasil, China e Rússia tornaram-se a bola da vez. Embora em 2004, a SAB Miller tenha aberto mão de uma aquisição na China para a concorrente Anheuser-Busch (dona da Budweisser), anunciou o início das vendas da Miller Genuine Draft aos chineses. A América Latina, além de ser um continente grande e quente, é uma das regiões com maior potencial de crescimento: o consumo per capita no Brasil é de 47 litros por habitante/ano e na Argentina chega a 34 litros, ainda bem distante de países da Europa e dos Estados Unidos. O consumo per capita americano é de 84 litros por ano e na Alemanha, sobe para 117.