Título: Ministro credita crise do álcool a fator conjuntural
Autor: Mônica Scaramuzzo e Marli Olmos
Fonte: Valor Econômico, 24/02/2006, Empresas &, p. B11

O ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues, lamenta a atual crise do álcool no país, mas anima a indústria automobilística a aumentar sua aposta nos motores bicombustíveis. "Temos hoje um problema conjuntural, de curto prazo, que está longe da questão estrutural do setor. Não teremos isso em 2007", assegurou ao Valor, em entrevista por telefone, de Porto Alegre. Segundo o ministro, nos próximos três ou quatro anos serão construídas 51 novas destilarias no Brasil, o que deve garantir o abastecimento e os investimentos industriais. "Nosso potencial de crescimento no setor sucroalcooleiro é inestimável. A produção vai crescer 10% com uma produtividade que está em franca expansão", disse. Rodrigues estima que o país tem ainda 20 milhões de hectares disponíveis para o plantio de cana. "Não tenho dúvida de que, no médio e no longo prazo, está garantido o abastecimento interno e os compromissos com as exportações em função de novas unidades e da expansão das lavouras". Hoje, o Brasil cultiva 6 milhões de hectares e produz 16 bilhões de litros de álcool. O ministro estima que a atual crise não se repetirá nos próximos anos. Segundo ele, a redução de 25% para 20% da mistura do álcool na gasolina garantirá, em 15 meses, um estoque para dois meses de consumo. "Lamento profundamente os problemas e os danos de imagem. Acho que não deveria ter acontecido isso, porque temos estoques e alta produção", afirmou. Rodrigues arrisca uma explicação para a crise. "Houve uma antecipação das compras das distribuidoras, mas não há razões sustentadas para essa explosão de demanda", disse. Embora os preços do açúcar estejam na melhor situação em 25 anos, o ministro acredita não haver motivos para temer uma produção maior da commodity do que do combustível. "As usinas farão mais açúcar, mas têm capacidade limitada de produção por causa de algumas condicionantes industriais", argumentou. Rodrigues afirmou também que o governo tem acompanhado "muito de perto" as condições de mercado e os fatores que perturbam a produção. O presidente da Câmara Setorial do Açúcar e do Álcool do Ministério da Agricultura, Luiz Carlos Carvalho, voltou muito entusiasmado de um giro pela Europa para avaliar as perspectivas para o setor sucroalcooleiro. "Há uma aposta real e verdadeira no álcool como combustível que substituirá os derivados de petróleo", afirmou. Diretor da Usina Alto Alegre, que atua no Sul do país e em São Paulo, Carvalho afirmou que as indústrias automobilísticas têm sido fundamentais na promoção do álcool como alternativa. "Não podemos dar um passo em falso nem retroagir aos tempos da crise de abastecimento. Temos que virar definitivamente esta página no setor sucroalcooleiro", disse.