Título: Tecnologia foi preterida na década de 90
Autor: Mônica Scaramuzzo e Marli Olmos
Fonte: Valor Econômico, 24/02/2006, Empresas &, p. B11

Não foi em um primeiro momento que as usinas de açúcar e álcool do país abraçaram a causa dos carros flex fuel. A tecnologia flex foi apresentada ao setor sucroalcooleiro pela primeira vez no início da década de 90 por executivos da alemã Bosch. Mas os usineiros não vislumbraram, àquela época, um mercado promissor para o álcool porque tinham planos mais ambiciosos para o açúcar. "Não houve muita empolgação. O petróleo estava barato e o mercado de álcool estava caótico", lembrou Alfred Szwarc, consultor da União da Agroindústria Canavieira de São Paulo (Unica). No início dos anos 90, com o fim da intervenção do governo no setor, as usinas passaram a investir na produção de açúcar, enquanto a produção de álcool dava mostras de enfraquecimento por conta da crise de desabastecimento do final da década de 80. As exportações do açúcar saltaram de 1,5 milhão de toneladas em 1990 para 18 milhões de toneladas no ano passado. A produção de álcool hidratado caiu dos cerca de 10,2 bilhões de litros em 1990 para cerca de 5 bilhões no final da década. Os executivos da Bosch voltaram a sondar as usinas no final da década de 90, mas o momento também não foi propício. Entre 1998 e 1999, os preços do açúcar e do álcool estavam em seus mais baixos níveis por conta da superoferta de cana no mercado interno. As cotações do barril do petróleo também estavam em patamares competitivos, abaixo dos US$ 20 o barril. Somente a partir de 2001, os usineiros sentaram para conversar sobre a tecnologia flex. O cenário, desta vez, estava mais atraente, com o preço do álcool valorizado por conta da quebra da safra de cana 2000/01. O barril do petróleo também começava sua escalada de preços. "Já havia uma percepção entre 1999 e 2000 de que os preços do petróleo iriam disparar", disse Szwarc. Com o cenário favorável, as usinas foram as primeiras a apoiar a tecnologia e a negociar a implementação junto ao governo. O setor se apoiou no flex fuel para dar uma direção ao álcool. (MS)