Título: PIB e inflação permitem crescimento maior
Autor: Raquel Salgado
Fonte: Valor Econômico, 01/03/2006, Brasil, p. A4

Conjuntura Resultado de 2005, nível de preços no bimestre e sinais de investimento animam perspectivas para 2006

Um conjunto de indicadores econômicos divulgados nos últimos dias reforçou, entre economistas, a avaliação de que há espaço para um corte maior de juros por parte da autoridade monetária. Se o BC acelerar o ritmo de queda, analistas devem revisar, para além de 3,5%, as previsões para a alta do Produto Interno Bruto (PIB) de 2006. O baixo crescimento do PIB em 2005 (indicando que não há gargalos para um futuro ritmo de atividade mais acelerado), os investimentos no setor produtivo e a inflação em baixa são os sinais que tornam o quadro deste início de 2006 bastante positivo na lista feita por analistas. Após a alta de 2,3% do PIB de 2005, Alex Agostini, economista da Austin Rating, revisou sua expectativa de corte de juros na próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) de 0,75 ponto percentual para 1 ponto. "O ofício do Banco Central é manter os preços sobre controle. Como a inflação está em queda, há espaço para uma redução maior", explica Agostini. O cenário internacional favorável ao financiamento da economia brasileira também colabora para cortes maiores. Na última sexta-feira, dois indicadores de inflação mostraram desaceleração. O Índice de Preços ao Consumidor (IPC) da Fipe registrou variação negativa de 0,08% na terceira quadrissemana de fevereiro. O Índice Geral de Preços do Mercado (IGP-M) ficou praticamente estável no mês, com leve queda de 0,01%. "São os reflexos do dólar mais barato", conclui Bráulio Borges, da LCA Consultores. Na pesquisa semanal feita pelo Banco Central com instituições do mercado, a projeção para o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) para este ano está colada na meta de 4,5% para 2006. Segundo o economista, "é preciso lembrar que nessa projeção ainda não está incorporado um câmbio por volta de R$ 2,2, o que a derrubaria mais". Marcela Prada, da Tendências Consultoria, diz que apenas uma parte da forte valorização do real ante o dólar chegou aos índices de inflação ao consumidor. "Ainda há espaço para quedas maiores no curto prazo", diz. Se o cenário de um câmbio em torno de R$ 2,15 e R$ 2,2 se confirmar, os produtos comercializáveis (aqueles que são exportados e importados), serão muito beneficiados. "É um grupo muito afetado pelo câmbio". Em 2004, estes bens subiram 6,3%. No ano passado, com o real valorizado, a alta ficou em 2,7%. Junto com uma inflação mais baixa, o aumento do investimento em produção seria outro motivo para uma queda mais rápida da taxa Selic. Em janeiro, o volume importado de bens de capital (máquinas e equipamentos) cresceu vigorosos 35,7% em relação ao mesmo mês de 2005. A Formação Bruto de Capital Fixo (FBCF) apesar de ter crescido apenas 1,6% no ano, mostrou recuperação no quatro trimestre de 2005, com uma alta de 1,7% sobre o período imediatamente anterior. Mesmo com um forte crescimento de 5,2% no consumo das famílias entre o terceiro e o quarto trimestres do ano passado, Borges diz que com certa folga no nível de utilização na capacidade instalada da indústria (84,5% em janeiro) e mais investimentos públicos - pois o superávit primário vai passar de 4,8% do PIB para 4,4% - não há tendência de pressão da demanda interna. "Ou seja, é possível baixar juros sem que a inflação seja pressionada", comenta. O desempenho robusto do consumo das famílias só tende a se intensificar ao longo do ano. Com a expectativa de incremento da massa de salários, pelo aumento do salário mínimo, e do investimento, o economista da LCA espera uma alta de 4,3% no consumo. Essa variação contribuiria com 2,4 pontos percentuais no PIB de 3,8%. Por outro lado, o setor externo deve, pela primeira vez desde 2002, contribuir negativamente para o crescimento da economia: menos 0,2 ponto percentual. Isso devido ao câmbio, que impôs um menor ritmo de aumento das exportações e impulsionou as importações. A projeção de um PIB em 3,8%, contudo, não incorpora um Banco Central menos conservador que, ao considerar a inflação em queda e os investimentos em alta, corte mais rapidamente os juros. "Caso isso ocorra, teremos um crescimento mais vigoroso", diz Borges. Em 2005, pelos dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o PIB cresceu 2,3%. O bom desempenho do último trimestre, alta de 0,8% ante o terceiro trimestre, ajudou a sustentar esse resultado. O crescimento foi ajudado pelo setor de serviços, que desacelerou bem menos (2% em 2005 ante 3,3% em 2004) que a indústria (2,5% em 2005 e 6,2% em 2004). Como lembra Agostini, da Austin, entre as principais economias emergentes e latino-americanas, o Brasil foi o país que teve a menor taxa de crescimento.