Título: Alckmin resiste à pressão tucana por Serra
Autor: Paulo de Tarso Lyra
Fonte: Valor Econômico, 01/03/2006, Política, p. A6

Depois de passar dois dias em seu sítio em Pindamonhangaba (SP), o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), descartou ontem a adoção de prévias para definição do candidato do PSDB à Presidência e disse não ter " plano B´´, caso não seja o escolhido. O governador disputa com o prefeito de São Paulo, José Serra (PSDB), a indicação do partido. " Não vejo necessidade (de prévias). O meu roteiro eu fiz. Cumpri todas etapas do partido. Coloquei meu nome à disposição do PSDB. Agora, é aguardar´´, disse. Dizendo-se " 100% zen´´, Alckmin afirmou que deixará o governo no dia " 31 de março, sexta-feira, às cinco da tarde´´ - seja qual for a escolha do partido - e que depois de seu desligamento vai " percorrer o país´´. " Escolhido o candidato, eu pretendo - após deixar o governo - me dedicar ao projeto nacional de desenvolvimento e percorrer o país.´´ O presidente do PSDB desembarca amanhã em São Paulo para um encontro com o prefeito de São Paulo, José Serra (PSDB), que voltou ontem de Buenos Aires. Com a viagem do governador de Minas, Aécio Neves, ao Canadá, e a ausência do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, que também está no exterior, Tasso concentrou as negociações para fazer prevalecer a preferência da cúpula tucana por Serra. Alckmin negou que tenha agendado reunião com Tasso. Os serristas já estão convencidos que o prefeito terá de se manifestar sem o sonhado apoio de Alckmin e terá de confiar no comando do partido. A tensão interna do PSDB, onde se desenrola a disputa entre o prefeito José Serra e o governador Geraldo Alckmin pela candidatura à Presidência , contaminou o PFL. A exemplo dos tucanos, os pefelistas, que querem fazer uma aliança e indicar o candidato a vice na chapa presidencial, estão também divididos. Serra continua mais forte e, se for o escolhido, o PFL marcha sem restrições para uma aliança nacional. Se o ungido for Alckmin, no entanto, a celeuma está formada: neste caso, o PFL pode até ressuscitar a tese de candidatura própria, enterrada pelo próprio postulante ao cargo, o prefeito do Rio, César Maia. "Se for para perder, que percamos com um nome nosso. Cacifa para 2010, assim como ocorreu com Ciro Gomes em 1998 e 2002", defendeu um cacique pefelista. A insistência de Alckmin em "peitar" os cardeais tucanos, no entanto, não está passando despercebida por uma ala do PFL de uma forma positiva. "Ele mostrou que tem garra, que deseja disputar esse cargo. Eleição é vontade, principalmente em candidaturas de oposição. Nos preocupa que já há tucanos entregando os pontos antes de a disputa começar", ponderou um pefelista pró-Alckmin. O PFL está também mergulhado numa crise interna por causa da disputa da vaga de vice. Quando Serra era soberano na disputa e Alckmin mantinha sua candidatura discretamente, a cúpula tucana passou a defender o nome de Jorge Bornhausen (PFL-SC), presidente do partido, para vice na chapa presidencial. "É uma bela homenagem para Jorge, mas é preciso ter racionalidade. Uma chapa Serra-Bornhausen, esquece", critica um pefelista nordestino. "Se o candidato tucano fosse o Tasso, tudo bem. Mas não é", prosseguiu. Bornhausen não emite opinião publicamente sobre o assunto. Decidiu que não disputará novamente a reeleição para o Senado. "Ele só disputa a eleição se for para presidente. E, claro, para vice", sorri um líder pefelista. Para contrapor-se ao nome de Bornhausen, uma parte do PFL lançou o nome do líder do partido no Senado, José Agripino (RN), para compor a chapa. Começou a circular a informação de que ele teria o melhor perfil, que teria o apoio de 11 dos 16 senadores, que comporia bem com o PSDB e traria o equilíbrio à chapa. A falta de penetração do PSDB no Nordeste agrava-se diante de um adversário que tem bom desempenho na região, como Lula. Longe dos bastidores, os pefelistas buscam passar uma imagem de paciência. Mas alertam que a demora do PSDB poderá custar caro. "Não queremos culpar ninguém. Mas é inegável que os últimos 15 dias foram péssimos para os planos eleitorais da oposição", criticou o líder do PFL na Câmara, Rodrigo Maia (RJ). "Quando não há candidatos à reeleição, tudo bem, o jogo pode começar mais tarde. Mas não é o caso. Lula está viajando, inaugurando coisas e estamos assistindo", prosseguiu. O PFL também espera para saber a quem apresentará a fatura em troca do apoio em outubro. Se na chapa nacional o partido aceita ser vice, quer, em troca, o apoio dos tucanos em alguns projetos regionais de seu interesse. Pelo menos sete estados estão na alça de mira do PFL: Bahia, Sergipe, Pernambuco, Rio Grande do Norte, Distrito Federal, Santa Catarina e Goiás. A Bahia de ACM e Paulo Souto parece ser o problema mais complicado de todos. o novo líder do PSDB na Câmara, Jutahy Júnior (BA) é serrista na mesma proporção que é anti-carlista. Quando o PFL aliou-se ao PSDB, em 1994, para garantir a eleição de Fernando Henrique, ele brigou com o partido. "A única saída para Jutahy seria a vitória de Alckmin no embate interno do PSDB. Caso Serra seja o escolhido, o trauma poderá ser grande", prevê um assessor do PFL. Em Sergipe, os pefelistas querem o apoio à reeleição de João Alves. "Não faz sentido os tucanos apoiarem o José Eduardo Dutra, ex-presidente da Petrobras", justificou Agripino. Em Pernambuco, o candidato é o atual vice-governador, Mendonça Filho; no Distrito Federal, a disputa está entre o senador Paulo Octávio e o deputado José Roberto Arruda; em Santa Catarina, é o prefeito de Lajes, Raimundo Colombo; e em Goiás, o nome do PFL é o senador Demóstenes Torres. (Com Folhapress)