Título: Instabilidade política pressiona as cotações
Autor:
Fonte: Valor Econômico, 01/03/2006, Internacional, p. A8

Petróleo Ataques rebeldes ameaçam a produção na Nigéria, no Iraque e agora até na Arábia Saudita

O preço do petróleo no mercado futuro voltou a subir ontem devido às preocupações de analistas com a instabilidade política em importantes produtores - Irã, Nigéria, Iraque e Arábia Saudita. O contrato com entrega em abril encerrou com avanço de US$ 0,41, a US$ 61,41 por barril em Nova York, depois de ser negociado entre US$ 60,30 e US$ 61,50. Em Londres, o Brent de abril subiu US$ 0,77, para US$ 61,76 por barril. O temor é que a Opep (Organização dos Países Exportadores de Petróleo) não tenha margem suficiente para suprir a quebra de produção de um de seu associados. "Não podemos ficar confortáveis com os níveis dos estoques mundiais por conta da situação geopolítica", disse Phil Flynn, vice-presidente de gerenciamento de risco da Alaron Trading, em Chicago. "A demanda está crescendo, o que nos deixa vulneráveis a rupturas no fornecimento. Se alguma das fontes de fornecimento de petróleo pararem de produzir, logo os altos estoques desaparecerão". O Departamento de Energia dos EUA divulgará nesta manhã, em Washington, seu relatório mensal de estoque de petróleo. Na Arábia, a instabilidade foi criada com a tentativa de um ataque suicida na última sexta-feira contra a maior refinaria do mundo, em Abqaiq, na região leste do país. Os seguranças conseguiram impedir o atentado, o primeiro do gênero do país, creditado à rede terrorista Al-Qaeda. Ontem, as forças sauditas prenderam cinco militantes na capital Riad, suspeitos de envolvimento no ataque. Outro fator que tem provocado instabilidade no mercado é a perda de 455 mil barris por dia (20% das exportações ) na Nigéria devido aos ataques realizados contra instalações petrolíferas do país. Há duas semanas, rebeldes seqüestraram nove trabalhadores estrangeiros e atacaram instalações de petróleo do país. Analistas vêem um período mais prolongado de conflitos no país, o que deverá manter a instabilidade no mercado internacional. No caso do Irã, os analistas se preocupam com a possibilidade de que a disputa nuclear possa prejudicar a produção do país, segundo maior produtor da Opep. O Irã firmou com a Rússia as bases para estabelecer o enriquecimento conjunto de urânio em solo russo, o que representa um avanço nas negociações para convencer Teerã a desistir de realizar esse processo em suas próprias usinas. O governo iraniano afirma que seu programa nuclear tem fins pacíficos, mas EUA e Europa afirmam que ele servirá para o desenvolvimento de armas nucleares. A grande preocupação é a de que o Irã revide a eventuais sanções da ONU cortando suas exportações. No Iraque, a iminência de uma guerra civil entre xiitas e sunitas -- uma "libanização" do Iraque, segundo cientistas políticos -- completa o quadro de instabilidade em importantes países produtores de petróleo. Um novo ataque a bomba contra uma mesquita xiita em Bagdá deixou 24 mortos e 47 feridos ontem. Pela manhã, outros três ataques mataram 32 iraquianos e feriram 80. O total de mortos desde o início da violência, na quarta-feira, já passa de 400. O presidente dos EUA, George W. Bush, disse que os iraquianos devem escolher entre "a união ou o caos." "Os riscos políticos ainda existem, então recuos nos preços do petróleo serão muito limitados", disse Tetsu Emori, estrategista-chefe para commodities do Mitsui Bussan Futures, em Tóquio.