Título: Mercado afina aposta ao Copom
Autor: Luiz Sérgio Guimarães
Fonte: Valor Econômico, 01/03/2006, Finanças, p. C2

De hoje até a divulgação da nova taxa Selic, na noite do dia 8, o mercado financeiro terá cinco pregões e meio para afinar e consolidar o consenso para a segunda reunião do ano do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central. Na primeira, o juro foi reduzido em 0,75 ponto percentual, para 17,25%. Por sua fraca liquidez, o pregão da última sexta-feira não serviu para avançar na busca de um consenso, apesar da conjugação de dois dados tendentes à cristalização de um corte mais acentuado que o anterior, desta vez de um ponto percentual. Foram eles a modesta expansão de 2,3% registrada pelo PIB no ano passado e a inflação de fevereiro, medida pelo IGP-M, de 0,01%. Mesmo depois desses números, os analistas persistiram divididos entre os que defendem a manutenção do ritmo precedente, por entender que a economia já está se recuperando, e os que reivindicam posicionamento mais audaz do Copom. O dissenso mais nítido se localiza, por enquanto, nos economistas que exigem uma diminuição da taxa ainda mais ousada, de 1,25 ponto percentual, para redondos 16%, o juro básico mais baixo desde agosto de 2004. É o caso do economista Paulo Gurgel Valente, da consultoria Profit. "O Copom cometeu um grave erro de avaliação em 2005, ao reduzir as taxas de juros em doses homeopáticas, quando teria sido necessário um choque. Os dados sobre o PIB do ano passado são alarmantes", diz ele. Pela sua análise, a desaceleração da economia, induzida pelo juro alto, não pode ser considerada surpreendente, quando são observadas as taxas acumuladas nos últimos trimestres, em queda contínua desde o final de 2004: 4,9%, 4,6%, 4,4%, 3,1% até chegar aos 2,3% acumulados em 2005. Essa rota declinante e a necessidade de ampliar o pacote de bondades eleitorais exigirão cortes de fato ousados. O economista-chefe da GRC Visão, Jason Vieira, diz que o Brasil perdeu uma janela de oportunidade aberta por um crescimento mundial em 2005 sem precedente na história da economia moderna. Pelas estimativas do FMI, a média de crescimento dos países emergentes foi de 6,2%. O país desperdiçou a oportunidade "devido à persistência em uma política monetária excessivamente restritiva, com o pagamento dos maiores juros reais do mundo". A sorte do BC é que, para 2006, há tempo hábil para a correção dos excessos. "O afrouxamento desta política, aliado a período de maiores gastos públicos e eleitorais com o pleito de 2006, devem trazer resultados positivos a partir do segundo trimestre deste ano e o crescimento do PIB deve girar em torno de 3,8%", diz Vieira.

Inflação e PIB justificam corte fundo da Selic

O contrato negociado no mercado futuro de juros da BM&F que tem a incumbência de refletir as apostas dos bancos para o próximo Copom caiu 0,02 ponto na sexta-feira, para 16,67%. Foi a décima primeira queda em seqüência. Mas o swap de 360 dias manteve-se estável em 15,25%. A ênfase governamental na redução da dívida externa e na mudança do perfil do endividamento interno permite acentuar o desaperto monetário sem receio de repiques inflacionários. Embora o dólar enfrente muita resistência para romper o piso de R$ 2,10 - quando a moeda se aproximou desse degrau, os bancos decidiram diminuir drasticamente suas pesadas posições vendidas -, não há expectativa de inversão consistente na rota de desvalorização traçada em fevereiro. No mês passado, o dólar acumulou perda de 3,48%. Fechou na sexta-feira cotado a R$ 2,1380. O meio expediente cambial de hoje não exigirá a venda de swaps reversos pelo BC.

Tesouro não irá vender LFT em março

O Tesouro está empenhado em trocar dívida pós-fixada, sujeita diretamente aos rigores da política monetária de curto prazo do BC, por outra prefixada. Segundo o cronograma de leilões de títulos públicos de março, divulgado na sexta-feira, não irá oferecer LFT, papel indexado à Selic, ao mercado pelo segundo mês consecutivo. A intenção do Tesouro é vender no máximo R$ 35 bilhões em títulos federais. Se obtiver êxito, promoverá um enxugamento líquido equivalente ao montante que será resgatado no mês, de R$ 17,5 bilhões. Ao oferecer o dobro do total a ser resgatado, o Tesouro manifesta a expectativa de vigoroso ingresso de capital estrangeiro. Pela programação, estão previstos este mês três leilões do papel mais cobiçado pelo investidor externo, as NTN-B, atreladas à variação do IPCA. O Tesouro também irá fazer oito leilões de títulos prefixados, sendo quatro de LTN e quatro de NTN-F. E mais um de NTN-C, título corrigido pelo IGP-M.