Título: Bancos caem na bolsa, apesar do anúncio de resultados recordes
Autor: Maria Christina Carvalho
Fonte: Valor Econômico, 01/03/2006, Finanças, p. C2

Na semana em que surpreenderam o país com lucros bilionários recordes, a maioria dos bancos teve o pior desempenho em bolsa dos últimos tempos. Não foi uma semana muito favorável ao mercado de ações em geral. O próprio índice Bovespa só fechou com valorização de 0,49% graças à alta de 0,53% da sexta-feira. Mas, nem todos papéis do setor financeiro conseguiram se recuperar das quedas. As ações ordinárias do Banco do Brasil, que teve um lucro líquido recorde de R$ 4,153 bilhões, despencaram 8,09% para R$ 54,99 cada uma. As preferenciais do Bradesco e do Itaú também caíram, embora menos, 0,68% e 2,83%, respectivamente, para R$ 87,60 e R$ 68,70. Bradesco teve o maior lucro de todo o setor, com R$ 5,514 bilhões, e Itaú ficou apenas um pouco atrás, com R$ 5,251 bilhões. Escaparam da queda as units do Unibanco, que fecharam a semana com alta de 1,92% a R$ 37,20, depois do lucro de R$ 1,838 bilhão; e as ordinárias da Nossa Caixa que, na contramão, subiram 7,11% para R$ 48,48, após o banco apresentar o maior resultado da sua história, de R$ 765,6 milhões. Os analistas do setor financeiro explicaram que os balanços dos bancos não foram ruins em 2005. Não surpreenderam, porém. "Os resultados vieram em linha com o projetado. Mas, depois de terem superado as expectativas no segundo e no terceiro trimestres, os investidores aguardavam coisas fabulosas no quarto trimestre", disse o analista da Fator S/A Corretora de Valores, Eduardo Pfiszter. "As previsões estavam um pouco agressivas", concordou o analista do UBS, Bruno Pereira. Acrescentou, no entanto, que "nenhum banco reportou números ruins. Na média, foram resultados em linha com as projeções ou um pouco abaixo". A queda da semana está longe de arranhar o bom retorno que os investimentos em ações de bancos vem dando desde 2005. A aplicação na ação de qualquer banco superou de longe o ganho nada desprezível de 27,71% do índice Bovespa em 2005 e de 15,41% neste ano até sexta-feira. O maior retorno é garantido pelas ações do Bradesco, que deram um lucro acumulado de 182% do início de 2005 e até sexta-feira. Segundo Pfiszter, o Bradesco era o banco "que mais entregava resultado acima do esperado". Não manteve esse comportamento no quarto trimestre e registrou um lucro até um pouco inferior ao estimado. Para o analista do Fator, a surpresa foi uma despesa não operacional de cerca de R$ 70 milhões. Já o analista do Pactual, Pedro Guimarães, não se surpreendeu com o lucro de R$ 1,463 bilhão do Bradesco no quarto trimestre. "Um cenário de juros mais baixos e foco em segmentos mais arriscados do crédito devem claramente levar a retornos menores", disse em relatório enviado a clientes - uma análise que vale para os grandes bancos de varejo brasileiros. Para Guimarães, dois fatores influenciaram os números do quarto trimestre: reforço de provisões por causa da ênfase no crédito de maior risco; e o aumento das despesas administrativas, principalmente com marketing. A maior surpresa do mercado, porém, foi o resultado do Banco do Brasil (BB). "Já se esperava um resultado mais fraco por causa da crise do agronegócio. Mas o balanço do BB deixou muito a desejar", disse Pfiszter. O analista da corretora Fator afirmou que o principal destaque negativo do BB foi o resultado da intermediação financeira no quarto trimestre, 43,5% inferior ao de igual período de 2004 por causa do aumento das despesas com provisões para créditos. Já o balanço do Itaú não surpreendeu a Merrill Lynch nem o Pactual. Em relatório da Merrill Lynch a clientes, Paul Tucker disse que os resultados do Itaú no quarto trimestre foram sustentados pelo crescimento de 12% do crédito de varejo, puxado pelo aumento de 18% no financiamento de automóveis e de 22% do cartão de crédito; pelas receitas de serviços; e pela redução das despesas com impostos. Para Guimarães, do Pactual, o Itaú deve aumentar as provisões para a financeira Taií neste ano por causa do maior risco de inadimplência em operações sem garantia de financiamento ao consumo e também dos riscos do cartão de crédito.