Título: Lula mantém expectativa de aliança com o PMDB, mas diz que não vai interferir
Autor: Maria Lúcia Delgado
Fonte: Valor Econômico, 03/03/2006, Política, p. A11

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva deu um recado claro ontem aos ministros que compõem a coordenação política do governo, durante reunião no Palácio do Planalto. Continua sonhando em ter o PMDB como vice na chapa presidencial de outubro. Mas não vai interferir diretamente na prévia interna da legenda, prevista para acontecer no dia 19 de março. Lula reconhece que a vitória da tese da candidatura própria dificultará a aliança com os pemedebistas. "É melhor deixar que eles resolvam seus problemas do que ter um aliado constrangido e dividido ao meu lado", afirmou o presidente. Lula tem dito aos ministros políticos que aguarda a decisão do PMDB para retomar as conversas de alianças. A cautela se contrapõe aos movimentos feitos pela ala governista do PMDB, especialmente o presidente do Senado, Renan Calheiros (AL), que busca colher assinaturas para melar a realização da prévia, no dia 19 de março. É a segunda vez que o presidente sinaliza uma posição mais flexível em relação ao PMDB. Em 2004, durante almoço com integrantes do partido, o presidente deixou claro que não impediria a realização da convenção, marcada para dezembro daquele ano, na qual a maioria definiu que o partido deveria ter candidatura própria. O presidente também busca não destruir as pontes de diálogo com o ex-governador do Rio, Anthony Garotinho. Assessores do Planalto asseguram que, apesar das críticas públicas feitas pelo presidenciável peemedebista, a conversa entre ambos jamais foi interrompida. "O presidente sabe que, quanto mais traumática for essa relação, mais complicado será um diálogo em um eventual segundo turno, caso o PMDB escolha Garotinho como candidato a presidente", lembrou um assessor. A mesma fonte acrescentou que não interessa ao presidente tornar ainda mais conflituosa a relação com a governadora fluminense, Rosinha Garotinho. Lula também pretende, ao não tumultuar as relações com o PMDB, garantir palanques estaduais com um partido tão complicado e heterogêneo. Na Bahia, por exemplo, o ministro da Coordenação Política, Jaques Wagner, pré-candidato ao Palácio Ondina, conversa constantemente com os caciques do PMDB local. O principal deles, o deputado Geddel Vieira Lima, é oposicionista convicto e defensor da tese de que o PMDB deve ter candidato próprio em outubro. (PTL)