Título: Em SP, Lula tem apoio menos concentrado nos pobres
Autor: César Felício, Caio Junqueira e Maria Lúcia Delgad
Fonte: Valor Econômico, 03/03/2006, Política, p. A12

O desempenho do presidente Luiz Inácio Lula da Silva nas faixas de renda é mais homogêneo no Estado de São Paulo do que no resto do país. A concentração de apoio nas camadas de mais baixa renda é menor entre os eleitores paulistas. Se na pesquisa nacional 39% dos que ganham até R$ 300 votariam no petista, no maior colégio eleitoral brasileiro essa proporção diminui para 26%. Já o prefeito José Serra e o governador Geraldo Alckmin, postulantes do PSDB à disputa presidencial, mantêm em São Paulo a preferência registrada nacionalmente dos eleitores de mais alta renda e escolaridade: Serra tem 43% dos votos dos que ganham mais de 10 salários mínimos e Alckmin, 52%.

Mesmo com boa avaliação de sua gestão municipal, Serra tem mais votos no interior do que na capital, revela a pesquisa do Ibope, divulgada ontem. Segundo o gerente de projetos do Ibope, Maurício Tadeu Garcia, o resultado é explicado pela lembrança da eleição presidencial de 2002. Os eleitores de Serra e Alckmin votariam em qualquer um dos dois: 71% dos que escolheriam o prefeito apoiariam o governador e vice-versa.

Sem a definição do candidato ao governo federal, os tucanos são os maiores prejudicados na disputa paulista. Os dois nomes do PSDB citados - José Aníbal e Paulo Renato Souza - aparecem atrás de Paulo Maluf (PP) e de Carlos Apolinário (PDT). Esse vácuo influencia outro resultado: São Paulo apresenta o maior índice de votos em branco e nulos do país, de 28%, e 11% de indecisos. Nos demais Estados, a taxa de brancos e nulos é de cerca de 15%. À frente na pesquisa estadual, Marta Suplicy, com 23% das intenções de voto, conseguiu dois trunfos dentro do PT. Ela atrairia mais votos para Lula do que o senador Aloizio Mercadante, com quem disputará a prévia partidária. Dos que votam na ex-prefeita, 41% escolheriam Lula; já dos que preferem o senador, 23% apoiariam o presidente. Outra vantagem é ter uma candidatura que, a exemplo de Lula, vai além do partido: dos que declararam voto em Mercadante, 57% mudariam a opção para Marta; na situação inversa, 31% dos apoiadores da petista escolheriam o senador. A base eleitoral de Marta é composta pelos mais jovens, com baixa renda e por moradores da capital. Já Mercadante tem a simpatia dos mais instruídos e com melhor poder aquisitivo, perfil semelhante ao eleitor de Aníbal, de Serra e Alckmin. A pesquisa, encomendada pelo Sindicato das Empresas de Transporte de Carga de São Paulo e Região, ouviu 1.204 pessoas entre os dias 18 e 23 de fevereiro e tem margem de erro de 3%.