Título: Pesquisa leva PSDB a pressionar por definição
Autor: César Felício, Caio Junqueira e Maria Lúcia Delgad
Fonte: Valor Econômico, 03/03/2006, Política, p. A12

Eleições Tucanos atribuem dianteira petista no Estado à longa disputa entre Serra e Alckmin por pré-candidatura

A pesquisa do Ibope sobre a eleição presidencial e para governador em São Paulo trouxe mais inquietação ao PSDB, que vê na disputa interna uma explicação para o resultado. A ala próxima ao governador paulista Geraldo Alckmin aumentou a pressão para a definição imediata. "Chegamos ao limite, a indefinição começa a prejudicar nos dois níveis da eleição", disse o vereador paulistano José Aníbal, um dos quatro pré-candidatos a governador tucano, que obteve 4% de intenções de voto no melhor cenário para o PSDB. O vereador, que apóia Alckmin, afirmou que a discrepância entre a aprovação da administração do governador e sua intenção de voto são um sinal disso: Alckmin ficou com 76% de aprovação popular e somente 31% da preferência para presidente. A escolha do candidato tucano a governador só será feita depois de o partido decidir se o nome para disputar a Presidência será o prefeito paulistano José Serra ou o governador paulista Geraldo Alckmin. O PT já definiu seu apoio à reeleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o mecanismo de escolha de seu candidato estadual, por meio de uma prévia, em maio, entre o líder do governo no Senado, Aloizio Mercadante (SP) e a ex-prefeita de São Paulo, Marta Suplicy. Segundo tucanos que trabalham com o cenário de Serra ser o escolhido para a candidatura presidencial, a pesquisa é negativa sobretudo para Alckmin, de quem se esperava partir de uma base em torno de 40% das intenções de voto no Estado que governa. O resultado adverso é atribuído ao comportamento agressivo adotado pelo governador em sua pré-candidatura pela campanha tucana. Já o mau desempenho de Serra na capital do Estado, onde ficou oito pontos atrás de Lula, é relacionado com a resistência do eleitor em aceitar a sua possível renúncia à prefeitura. Ontem, Alckmin queixou-se de que existe "um dilúvio de propaganda federal" e negou a intenção de disputar a eleição para o Senado, em que está em primeiro lugar. "Isso nunca me motivou", afirmou. Serra não comentou a pesquisa. O PFL assiste perplexo ao crescimento de Lula em São Paulo, mas aposta numa reversão de cenário. "Lula está vivendo um bom momento que vai se esvair. Nós estamos vivendo um mal momento, mas isso passa. Lula tem pouco combustível", analisou o líder do PFL no Senado, José Agripino Maia (RN), cotado para a vice na chapa com o PSDB. Para Agripino, o principal trunfo da oposição será a conclusão das duas CPIs, dos Bingos e Correios. "Será um momento decisivo para recuperarmos a memória dos fatos. Vivemos um governo defeituoso", disse. A oposição comemorou ainda a descoberta da CPI dos Bingos, que revela a ligação entre o presidente do Sebrae, Paulo Okamotto e petistas envolvidos no escândalo do mensalão. A recuperação de Lula teria se dado pela falta de notícias negativas de impacto contra o PT nos últimos três meses. Marta teria se beneficiado desta conjuntura pela lembrança forte de seu nome em razão da eleição municipal de 2004, quando foi derrotada ao tentar se reeleger. Diferentemente dos tucanos, os petistas colocaram em segundo plano a disputa interna do PSDB para justificar o empate de Lula com Alckmin e Serra no Estado de São Paulo. "Esse embate entre o prefeito e o governador é apenas um fator a mais que se reflete a nosso favor na pesquisa. O que de fato influenciou foram as realizações do governo. Há também a ofensiva de comunicação que tem sido feita", afirma o ex-deputado Rui Falcão, um dos principais articuladores da pré-candidatura de Marta ao governo do Estado. "É evidente que a indefinição do PSDB facilita nosso projeto da reeleição. Os tucanos estão confusos, atrapalhados, sem candidato a presidente, sem candidato a governador. Estamos sozinho no páreo", festejou o secretário-adjunto do PT, Joaquim Soriano, da ala esquerdista do PT. Já com agenda de campanha eleitoral, Mercadante surpreendeu-se com a vantagem de Marta Suplicy no Estado e solicitou a íntegra da pesquisa. Mercadante disse não estar intimidado com seus resultados ."A minha campanha ainda não está na rua. Em São Paulo, 45% dos eleitores não demonstraram sua preferência para a disputa estadual. Quando comecei a campanha para o Senado tinha apenas 6% dos votos e o Quércia ficou na minha frente durante toda a campanha", recordou. O resultado de uma prévia seria incerto. Marta Suplicy tem vantagem significativa na capital. Mercadante a supera no interior. A definição ficaria nas mãos dos delegados petistas da Grande São Paulo. O senador vence no ABC paulista, mas Marta o derrota em Diadema. Em Guarulhos, Mercadante tem mais simpatizantes. Em Osasco, Marta vence. Segundo colocado na pesquisa no cenário com Marta e primeiro no cenário com Mercadante, o ex-governador Orestes Quércia (PMDB) continua demonstrando desinteresse pela disputa local. Passou o feriado do Carnaval no exterior, e quando voltar ao país na próxima semana, deve se dedicar a ajudar o governador gaúcho Germano Rigotto a viabilizar-se como o candidato presidencial do PMDB, na prévia que este partido deverá fazer no dia 19.